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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
dade in statu nascendi dispõe que a minoria se apresenta constantemente
com um aspecto de recomeço, com a característica de estar em constante
formação. A terceira característica é a luta contra-hegemônica, ou seja, a
luta da minoria contra a vigência do poder hegemônico, a partir de ações
minoritárias que podem até se concretizar em virtude de uma reper-
cussão midiática. Por fim, existem as estratégias discursivas, que incluem
também ações demonstrativas, formas pelas quais as minorias dão visibi-
lidade pública às suas demandas: passeatas, manifestações, meios de co-
municação alternativos (como jornais, vídeos, folhetos etc.), campanhas,
manifestos, entre outras estratégias.
Assim, a mídia e outros espaços de visibilidade pública (como as redes
sociais digitais) se tornam palco de disputas simbólicas e expõem as no-
vas formas de se fazer política na sociedade. Recursos midiáticos, des-
sa forma, surgem para as minorias como uma possibilidade de atuar no
campo do simbólico.
Partindo do pressuposto de que “ao se apropriar de um espaço, concre-
ta ou abstratamente (por exemplo, pela representação)”, os atores sociais
“territorializam” o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 143), entende-se que as
práticas de produção audiovisual também funcionam como dispositi-
vos capazes de estabelecer territorialidades ou de, pelo menos, torná-las
visíveis e passíveis de serem identificadas para além de suas fronteiras
concretas. Tais práticas são, em essência, uma forma de “apropriação” de
espaços, que podem ser recriados, realçados, modificados etc., sendo ob-
jeto (e também suporte) de uma construção discursiva. A própria ação do
realizador audiovisual também consiste em ocupar, durante um tempo
determinado, espaços físicos que são ressignificados a partir das (novas)
espacialidades criadas pela linguagem audiovisual, seja no processo de fil-
magem, seja nas etapas de pós-produção (edição, tratamento de imagem e
de som, efeitos especiais etc.). Desse modo, os documentários sob análise
dão visibilidade às novas territorialidades – e uma consequente disputa
por territórios – geradas pelo desastre provocado pela Samarco e aos des-
locamentos físicos e simbólicos sofridos pelas comunidades afetadas.
Considerando tais premissas, propomos as seguintes questões: que atores
sociais compõem as vozes dos documentários? Quais as abordagens tra-
zidas pelos vídeos e que tipo de discurso prevalece com relação ao evento
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