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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
sua descoberta galgou a posição de uma praia secreta e conhecida
por poucos para uma das 10 melhores ondas do Brasil, eleitas de
acordo com o público de uma revista de circulação nacional espe-
cializada no esporte. (LEONARDO et al., 2017, p. 70).
(IN)CONCLUSÕES
Encerramos o texto considerando as negociações feitas para viabilizar
o acordo entre os governos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo,
as empresas responsáveis pela barragem de Fundão e as agências respon-
sáveis pela proteção ambiental e de povos indígenas. As negociações não
foram nem transparentes nem democráticas. Igualmente, não admitiram
questionamentos sobre a viabilidade da atividade de mineração nem dú-
vidas sobre as políticas ou os beneficiários da linguagem tecnocrática de
risco (ZHOURI, et al., 2017). Um de seus resultados foi um acordo, assi-
nado em 2 de março de 2016, que criou uma “pessoa jurídica de direito
privado”, (auto)alegadamente “sem fins lucrativos”, a Fundação Renova
(FUNDAçãO RENOVA, 2016). O estatuto da Fundação Renova permite,
inclusive, que ela empregue pessoas que já compõem os quadros de fun-
cionários das empresas Samarco Mineração S.A., Vale S.A. e BHP Billiton
Brasil Ltda. Seu objetivo seria implementar programas socioambientais
e socioeconômicos para lidar com as consequências do rompimento da
barragem (FUNDAçãO RENOVA, 2016).
Trata-se de uma configuração de relações categorizada por conflitos de in-
teresses, que pode ser particularmente perigosa no momento político atual
brasileiro, de águas muito turbulentas. A Fundação Renova tem como sua
principal mantenedora a Samarco Mineração S.A. e, subsidiariamente, a
Vale S.A. e a BHP Billiton Brasil Ltda. Seu conselho consultivo não tem
poder decisório, estando a seu cargo “emitir opiniões e pareceres não vin-
culantes sobre as matérias relativas aos programas, projetos e medidas a
serem implementados para assegurar o cumprimento do Acordo e dos
objetivos da Fundação” (FUNDAçãO RENOVA, 2016, p. 17, 50º. artigo.).
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29 ZHOURI e colaboradores (2017) escreveram: “The companies (Samarco, Vale and BHP
Billiton) have been allowed to interfere in the process of defining reparation and compensation
actions, a fact which helps to guarantee the interests of the companies in detriment to the rights
of affected people” (p. 97). Em Refining Expertise: How Responsible Engineers Subvert Environ-
mental Justice Challenges, Gwen Ottinger (2013) argumenta que, ao se nomearem especial-
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