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Capítulo 10

                           falando do maior crime socioambiental da história desse país!
                           Não vamos ter medo de falar sobre isso! Não vamos falar baixo
                           sobre isso! Vamos falar alto! Grosso! Firme! Que nós estamos
                           falando contra uma empresa criminosa! E não sou eu que estou
                           falando sobre isso, é a lei!
                    A menção à lama enfatizou a ampla contaminação simbólica-material e,
                    nesse discurso, foi dada ênfase às formas com que o Estado brasileiro,
                    através de marcos regulatórios ambientais e de segurança fracos, permi-
                    tiu e protegeu as corporações transnacionais dedicadas às atividades ex-
                    trativistas, como as de mineraçao e exploração de óleo (SANTOS & MI-
                    LANEZ, 2017).

                    A onda de lama é aqui materialidade e símbolo, então, dos problemas do
                    Brasil, como Nação, Estado e Mercado:
                           Eu costumo dizer que a relevância do tema, do crime da Samarco,
                           é porque o crime da Samarco, meus caros, minhas caras, nesse
                           processo que nós estamos vivendo junto com a lama que derra-
                           ma da barragem de Fundão, vem com ela, se escancara nessa lama
                           as contradições desse país! [...] porque afinal de contas nós estamos
                           falando de 660 barragens de mineração! Muitas delas com risco
                           mais elevado de rompimento do que a de Fundão que se rompeu!
                           Eu costumo dizer, portanto, que o crime que a Samarco, ele se
                           torna emblemático porque ele revela, junto com a lama que der-
                           ramou, vários Brasis! O primeiro Brasil que eu vejo nessa lama,
                           matando as pessoas, é o Brasil colonial [grifo nosso].

                    Outros Brasis foram pontuados em sua fala: o “Brasil patrimonialista, pri-
                    vatista”, “o Brasil antidemocrático” que “insiste em manter o seu povo lon-
                    ge das decisões políticas”, “o Brasil do conchavo” e, por fim, fechando sua
                    narrativa, o “Brasil da resistência”. Aqui, a onda de lama carrega consigo
                    todas as forças, todas de uma vez. O discurso se encerrou com a referência
                    a um poema de Carlos Drummond de Andrade, “Nosso tempo”, e, mais
                    intensamente, com a letra de uma música de Gonzaguinha, “Vamos à
                    luta”, em associação, no caso, à ocupação das escolas pelos secundaristas
                    brasileiros. Aqui, havia uma reivindicação maior sobre tóxicos e tempora-
                    lidades, e sobre o alcance das histórias da colonização, via mineração, até





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