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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
(BORGES, 2015; ORGANON, 2015).
A então ministra do Meio Ambiente minimizou os efeitos da dispersão
dos rejeitos no oceano (BORGES, 2015), fazendo uma previsão que teria
sido imprudente para qualquer estudante da matéria (MARTA-ALMEI-
DA et al., 2016). O engenheiro Paulo Rosnan, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, também procurou minimizar as preocupações dos am-
bientalistas a respeito das consequências para as águas oceânicas, acre-
ditando que “os possíveis estragos estão sendo superdimensionados pelos
órgãos ambientais.” (BORGES, 2015, s.p.). E continuou: “No mar, eu creio que
não será nada relevante. Haverá só uma mancha colorida muito grande que
se dispersará normalmente, como se dispersam as manchas que saem dos
rios em épocas de grandes chuvas.” (BORGES, 2015, s.p.). A mesma fonte re-
gistrou que a Samarco dissera que a pluma não era tóxica.
Mas ondas de lama, de fato, apareceram na costa, como pode ser visto nas
fotos da praia de Regência Augusta, que mostram as ondas quebrando
com a coloração dos rejeitos. Discussões entre engenheiros, representan-
tes da companhia, ativistas e moradores das áreas afetadas versavam sobre
futuros possíveis. Se no relato de David McDermott Hughes (2005) sobre o
rio Limpopo a água anima a imaginação de futuros virtuosos para ativistas
da conservação da biodiversidade, aqui se deram disputas entre os apolo-
gistas das corporações, que imaginaram a onda apenas como mancha a se
dispersar, e outros, que viram a onda como capaz de repetir e amplificar
seus riscos, suas potências negativas, e que, de novo e de novo, reincarnar-
se-iam em ondas oceânicas enlameadas, sinalizando o desdobramento da
poluição advinda do interior e a marginalização da ecologia costeira.
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