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Capítulo 10

                           responsabilizados pelo seu crime.

                    Tanto a peça quanto o documentário em realidade virtual vão além da
                    simples transmissão de imagens, que, por si só, em excesso, pode produ-
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                    zir um efeito anestésico;  ou, para as pessoas atingidas, exacerbar o so-
                    frimento (HELENA et al., 2017). Mesmo com tais riscos, eles preservam o
                    caos causado pelo evento (DAS, 1999). A chegada e a abrupta violência da
                    onda ficam retidas no tempo, uma proteção contra a dissolução da onda
                    ou contra os esforços de obliteração da calamidade, à semelhança do que,
                    às vezes, as águas dos rios fazem (RAFFLES, 2002). Essas representações
                    de arte politicamente engajada procuram tornar o passado parte do pre-
                    sente e de um futuro orientado pela precaução. 17



                    ONDA NÚMERO DOIS: A MATERIALIZAçãO DA LAMA E AS
                    TOXINAS IMINENTES EM BAIXO GUANDU

                       Em dezembro de 2015, pesquisadores de diferentes disciplinas da Uni-
                    versidade Federal do Espírito Santo viajaram rio Doce acima para veri-
                    ficar a situação de localidades do estado que dependiam das águas des-
                    se rio para energia elétrica, pesca e lazer.18 Uma reportagem, intitulada
                    “Lama interrompe atividades de Usinas Hidrelétricas no Leste de Minas”,
                    datada de 16 de novembro de 2015, trazia informações sobre duas hidrelé-
                    tricas do rio Doce: a represa de Baguari, na cidade de Governandor Va-
                    ladares, e a usina de Aimorés, na fronteira entre Minas Gerais e Espírito
                    Santo. A operação de ambas as plantas estava suspensa, em função do
                    receio de que a água tóxica danificasse as turbinas ou as comportas. No
                    que diz respeito à planta de Aimorés, a matéria afirmava que “[se] está
                    monitorando a situação da chegada da ‘onda’ no Rio Doce, através dos
                    boletins emitidos pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM – e também
                    com sua equipe de campo. A assessoria afirma que neste final de semana
                    a mancha foi observada no reservatório da Usina de Aimorés.” (G1/VA-
                    LES DE MINAS GERAIS, 2015, s.p.).



                    16   Sobre como isso se dá no caso dos problemas ambientais, veja, por exemplo, Hannigan
                    (1995).
                    17   Veja também: goo.gl/sGwSgv e goo.gl/xLsLHC. Último acesso em: 27 de março de 2018.
                    18   Parte dessa experiência está analisada no relatório redigido pelo ORGANON (2015).




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