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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               O grupo de pesquisadores reuniu-se com o prefeito do município de Bai-
               xo Guandu, na fronteira com Minas Gerais, e o entrevistou. Baixo Guan-
               du chamou atenção do público, de agentes institucionais e das compa-
               nhias mineradoras por conta de protestos com a ocupação dos trilhos da
               ferrovia Vitória-Minas Gerais (através da qual o minério de ferro é trans-
               portado entre Minas Gerais e o Porto de Tubarão, em Vitória, Espírito
               Santo). A ocupação deu-se em resposta ao rompimento da barragem e à
               subsequente dispersão da lama. Foi também uma resposta aos resultados
               de uma análise laboratorial, tornada pública pelo prefeito, das águas do
               rio Doce das proximidades. Uma agência brasileira de notícias registrou:

                       O resultado da análise laboratorial das amostras de água coleta-
                       das no Rio Doce, em Minas, apontou níveis acima das concentra-
                       ções aceitáveis de metais pesados como mercúrio, arsênio, ferro e
                       chumbo na lama que escorreu para o rio com o rompimento das
                       barragens em Mariana (MG). O prefeito de Baixo Guandu (ES)
                       […] confirmou a informação.
                       “Para se ter uma ideia, a quantidade de arsênio encontrada na
                       amostra foi de 2,6394 miligramas, sendo que o aceitável é de no
                       máximo 0,01 miligrama”, citou.
                       Ainda segundo o prefeito, são 100 quilômetros de material tóxico
                       descendo pelo rio. “Encontramos praticamente a tabela periódica
                       inteira dentro da água. Quero ver o que o presidente da Vale vai
                       fazer para ajudar todo o povo”, disparou. (ALMEIDA, 2015, s.p.)

               O prefeito de Baixo Guandu afirmou que o município tinha 31 mil habi-
               tantes e que sua economia baseava-se na agricultura, no comércio e na
               mineração de granito. Contava também com cerca de 260-270 pescadores
               profissionais. O prefeito referiu-se a eles, ao ressaltar a importância do
               rio, invocando imagens bíblicas: “...Porque existe a cidade, por causa da
               água [...]. Então nós somos um rio, nós somos um rio! As comunidades
               aqui são um rio! […] Ah, porque em 5 meses o rio está limpo... Ah, eu que-
               ro ver ele morar aqui agora! [...] quero ver ele morar aqui! Quero ver ele
               comer o peixe da água do Rio Doce, viver a nossa dor aqui, entendeu? Por
               isso que nós não vamos deixar isso passar...”.

               Outra preocupação, disse ele, era evitar conflitos de distribuição de água,





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