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dade de peixes durante esse momento pós-lama, via o próprio canal Ca-
boclo Bernardo, mas também nos rios Riacho e Comboios. Eram fortes
as desconfianças sobre as condições das águas doces disponibilizadas aos
moradores, bem como havia interpretações de que problemas de saúde
na localidade, como doenças gastrointestinais, doenças de pele e câncer,
provinham da má qualidade dos rios. Uma audiência em junho de 2017
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foi realizada para tratar do assunto. Igualmente, esses problemas e in-
certezas foram associados, em várias narrativas, à abertura das comportas
do canal Caboclo Bernardo, que teria permitido o deslocamento dos re-
jeitos da lama até a foz do rio Riacho e à boca da barra, e aos despejos de
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efluentes da Fibria e de outras empresas nos rios e no oceano. 21
Durante a realização das atividades de extensão em Barra de Riacho, os
moradores empenhavam-se no reconhecimento enquanto atingidos, e
uma das demandas era o recebimento do auxílio emergencial por conta
da chegada da lama de rejeitos e da interdição da pesca. O pedido foi acei-
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to pelo Comitê Interfederativo (CIF) apenas em 31 de março de 2017. O
CIF é entidade de composição híbrida responsável pelo acompanhamen-
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to das ações da Fundação Renova relativas ao pós-rompimento.
19 Na audiência, o profissional do SAAE teria asseverado que “qualidade da água distribuí-
da para as comunidades do distrito está dentro dos padrões de potabilidade determinados
pela Organização Mundial de Saúde (OMS)” (PMA, 2018).
20 Menor preocupação foi dada à emissão de gases no ar feita tanto pela Fibria quanto por
outras empresas do setor químico que prestam serviços à indústria de produção de celulose
e à Petrobras, embora seja preciso ressaltar que uma liderança local apontou esse problema.
21 Destacamos que Barra do Riacho não possui tratamento de esgoto, fato destacado mui-
tas vezes pelos moradores locais. Todos os resíduos sanitários da localidade são despejados
diretamente no rio Riacho.
22 Outras foram as áreas que receberam o reconhecimento, na costa do Espírito Santo, em
um total de 19, nos municípios de São Mateus, Linhares, Aracruz e Serra. Para uma listagem
completa e maiores informações consulte Alves (2017).
23 Segundo definição do site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-
turais Renováveis (IBAMA), que preside o CIF, este tem como “função [...] orientar e validar
os atos da Fundação Renova, [...], para gerir e executar as medidas de recuperação dos danos
resultantes da tragédia.” Além do IBAMA, tem na sua composição “representantes da União,
dos governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, dos municípios impactados e do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.” (IBAMA, 2018a). O CIF possui Câmaras Técnicas, das
quais podem participar representantes de outros órgãos ou entidades públicos. A mediação
de relações entre a Fundação Renova e os “impactados” está também entre as suas prer-
rogativas. O regimento interno do CIF está anexado à portaria número 18 do IBAMA, de
07/07/2016 (IBAMA, 2018b).
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