Page 38 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
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comerciantes (donos de peixarias), tratadoras de peixes e os próprios con-
               sumidores, que não se sentiam mais seguros para consumir regularmente
               o alimento. Conforme já assinalamos alhures, Barra do Riacho, diferen-
               temente de Regência Augusta, convive com forte presença de diversos
               empreendimentos industriais e químicos, muitos dos quais associados à
               produção e ao processamento da celulose de eucaliptos, à petroquímica e
               à infraestrutura portuária, e, por conta disso, a vila não recebeu a mesma
               atenção ambientalista dada a Regência Augusta. Tal fato coloca a questão
               do acúmulo de injustiças socioambientais sofridas ali ao longo do tem-
               po e dos paradoxos do desenvolvimento e suas externalidades, refletidos
               na menor preocupação com as consequências da lama sobre a comuni-
               dade, seu ar, suas águas e seus habitantes humanos e não-humanos. Os
               capítulos 2, 3 e 4 são aqueles que, neste livro, recuperam um pouco da
               conjugação desenvolvimentismo-ambientalização que se deu em Barra
               do Riacho ao longo do tempo.

               Para além das unidades de conservação, já apontadas na seção anterior, e
               da lama vinda pelo oceano, na localidade de Barra do Riacho a água doce
               encontra-se diretamente comprometida pelas atividades de produção de
               celulose vinculadas à empresa Fibria. Em 1999 foi construído o canal Ca-
               boclo Bernardo a partir de um desvio do rio Doce, em Linhares, até o rio
               Riacho, em Barra do Riacho, desvio este feito para garantir o abasteci-
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               mento de água para a produção de celulose de eucaliptos da Fibria.  Essa
               alteração no corpo hídrico da região tem sido percebida como altamente
               danosa, pois não só desviou rios e córregos, como teria secado nascentes
               e mantido a foz do rio Riacho com um problema constante de assorea-
               mento, implicando o fechamento da boca da barra e impedindo, assim, o
               trânsito de barcos entre o rio e o mar. Essa questão da crise hídrica e suas
               consequências para a atividade da pesca também estão profundadas no
               capítulo 2 do presente livro.

               Nas percepções e falas locais sobre a chegada da lama em Barra do Ria-
               cho, ouvimos, ainda, relatos que apontaram para o aumento da mortan-


               18   A presença dos eucaliptais, de oleodutos e gasodutos também poderia ser menciona-
               da como elemento importante em ambas as localidades, mas, pelo momento crítico vivido
               nas duas comunidades em relação às condições das águas, foram elas que receberam maior
               destaque junto aos interlocutores de pesquisa e, por isso, elas estão enfatizadas na presente
               introdução.




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