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de foi invadida por peritos das mais variadas áreas, advogados, cientistas,
políticos, ambientalistas, repórteres e, nos primeiros meses, chegaram
também equipamentos como dragas, helicópteros, embarcações, filma-
doras, entre outros. Tratou-se de um crime-desastre que, de modo mais
intensivo e ostensivo, no fim de 2015 e no início de 2016, abalou o cotidiano
e a vida local, afetando a prática da pesca e do surfe, o comércio, o turismo
e as atividades de lazer ligadas ao rio e ao mar, como pudemos observar e
ouvir em atividades de campo.
A força da situação vivida em Regência Augusta explica a presença de seis
capítulos que recuperam de modo mais ou menos direto esse cenário e a
presença material e simbólica da lama — os capítulos 5, 6, 7, 8, 9 e 10 —,
a exemplo de outras produções associadas ao projeto de extensão, como
trabalhos apresentados em eventos, monografias, um relatório e uma dis-
sertação de mestrado. O capítulo 6, em especial, é interessante por pro-
blematizar a gestão da crise, levada a cabo inicialmente pela Samarco, seus
consultores e, depois, pela Fundação Renova, que interferiu nas relações
internas à comunidade, o que acabou por dificultar a atuação do progra-
ma de extensão, por conta do estresse causado ali, assim como ocorreu
em outras localidades, como em Barra do Riacho. Ambas as comunidades
passaram a ter um excesso de reuniões, algumas das quais realizadas a
portas fechadas com os representantes das empresas responsáveis pela
barragem rompida. Coincidentemente ou não, algumas dessas reuniões
se davam, às vezes, no mesmo dia e horário que as oficinas do projeto, que
eram baseadas em metodologias coletivas e participativas, nas quais bus-
cávamos captar relatos, realizar mapas falados e matrizes de impactos,
por exemplo. 17
Os efeitos da chegada da lama da Samarco foram sentidos em outras
localidades também, embora com menor divulgação nos meios acadê-
micos e de comunicação, em comparação com o ocorrido em Regência
Augusta. Barra do Riacho foi uma das localidades que receberam pouca
visibilidade. As consequências foram problematizadas ali de modo mais
intenso a partir do momento da proibição oficial das atividades de pesca,
em fevereiro de 2016, o que gerou comprometimentos na vida de dezenas
de famílias que viviam direta ou indiretamente desse ofício: pescadores,
17 A respeito dessas metodologias, consulte Faria e Neto (2006).
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