Page 37 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
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de foi invadida por peritos das mais variadas áreas, advogados, cientistas,
                    políticos, ambientalistas, repórteres e, nos primeiros meses, chegaram
                    também equipamentos como dragas, helicópteros, embarcações, filma-
                    doras, entre outros. Tratou-se de um crime-desastre que, de modo mais
                    intensivo e ostensivo, no fim de 2015 e no início de 2016, abalou o cotidiano
                    e a vida local, afetando a prática da pesca e do surfe, o comércio, o turismo
                    e as atividades de lazer ligadas ao rio e ao mar, como pudemos observar e
                    ouvir em atividades de campo.
                    A força da situação vivida em Regência Augusta explica a presença de seis
                    capítulos que recuperam de modo mais ou menos direto esse cenário e a
                    presença material e simbólica da lama — os capítulos 5, 6, 7, 8, 9 e 10 —,
                    a exemplo de outras produções associadas ao projeto de extensão, como
                    trabalhos apresentados em eventos, monografias, um relatório e uma dis-
                    sertação de mestrado. O capítulo 6, em especial, é interessante por pro-
                    blematizar a gestão da crise, levada a cabo inicialmente pela Samarco, seus
                    consultores e, depois, pela Fundação Renova, que interferiu nas relações
                    internas à comunidade, o que acabou por dificultar a atuação do progra-
                    ma de extensão, por conta do estresse causado ali, assim como ocorreu
                    em outras localidades, como em Barra do Riacho. Ambas as comunidades
                    passaram a ter um excesso de reuniões, algumas das quais realizadas a
                    portas fechadas com os representantes das empresas responsáveis pela
                    barragem rompida. Coincidentemente ou não, algumas dessas reuniões
                    se davam, às vezes, no mesmo dia e horário que as oficinas do projeto, que
                    eram baseadas em metodologias coletivas e participativas, nas quais bus-
                    cávamos captar relatos, realizar mapas falados e matrizes de impactos,
                    por exemplo. 17
                    Os efeitos da chegada da lama  da Samarco foram sentidos em outras
                    localidades também, embora com menor divulgação nos meios acadê-
                    micos e de comunicação, em comparação com o ocorrido em Regência
                    Augusta. Barra do Riacho foi uma das localidades que receberam pouca
                    visibilidade. As consequências foram problematizadas ali de modo mais
                    intenso a partir do momento da proibição oficial das atividades de pesca,
                    em fevereiro de 2016, o que gerou comprometimentos na vida de dezenas
                    de famílias que viviam direta ou indiretamente desse ofício: pescadores,

                    17   A respeito dessas metodologias, consulte Faria e Neto (2006).




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