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públicos e as empresas. No final do mesmo mês, a nota técnica n.º 006/2-
               16, elaborada pelo Centro TAMAR, funcionários da APA Costa das Algas,
               da REBio de Comboios e da REVIS de Santa Cruz, acusou a contamina-
               ção fora da área acima pontuada. A partir de informações de pesquisado-
               res da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e da Universidade
               Federal do Rio Grande (FURG), ela apontou:

                       a contaminação, por metais pesados (na água, nos sedimentos
                       e nos organismos) fora da área de proibição de pesca [...] deter-
                       minada pela Justiça Federal de Linhares-ES, como nas regiões
                       de Barra Nova (São Mateus/ES); Banco de Abrolhos (ao norte) e
                       Unidade de Conservação APA Costa das Algas e RVS de Santa
                       Cruz (ao Sul), inclusive com risco de contaminação humana pelo
                       consumo de pescado (ACP, 28/04/2016, p. 34). 15

               No final de abril de 2018, foi criada uma Ação Civil Pública da força-tarefa
               dos Ministérios Públicos contra o acordo assinado entre os governos dos
               estados de Minas Gerais e Espírito Santo e agências governamentais vol-
               tadas para a questão ambiental e indígena, uma tentativa de evitar a judi-
               cialização das consequências do crime-desastre. Mesmo assim, o estatuto
               da Fundação Renova foi assinado em junho de 2016.  Trata-se de uma
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               organização à qual caberia realizar programas socioambientais e socioe-
               conômicos para lidar com as consequências causadas pelo rompimento;
               no entanto, suas mantenedoras são as próprias empresas responsáveis
               pela barragem.
               Enfim, o pequeno histórico é apenas para ilustrar como, de modo repen-
               tino, o projeto de extensão também se viu mergulhado num turbilhão de
               conflitos e ações que nos impeliu a incluir a questão da lama como um dos
               nossos principais problemas abordados. A chegada da lama em Regên-
               cia Augusta e seus desdobramentos posteriores, cabe mencionar, foram
               propalados pelos meios de comunicação de massa em todo o Brasil e no
               mundo — o que se vislumbra na leitura dos capítulos 9 e 10. A localida-


               15   Consulte, por exemplo, Marta-Almeida e colaboradores (2016) a respeito das controvér-
               sias da extensão territorial da lama no oceano.
               16   Uma boa síntese sobre essas idas e vindas é a própria Ação Civil Pública, de 28 de abril de
               2016, montada pela força-tarefa dos Ministérios Públicos Federais de Minas Gerais e Espírito
               Santo (FORÇA-TAREFA MPF, 2016).




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