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Capítulo 2
da água que deveria passar pelo rio Riacho e desembocar no mar, aprisio-
nando-a em suas comportas. Esse processo gera o fechamento da boca da
barra, a foz do rio, quase cotidianamente, o que prejudica diretamente os
pescadores, impedindo que eles possam sair de barco para o alto-mar na
busca de realização das suas atividades.
Existem casos em que o pescador, ao sair para pescar em alto-mar, en-
contra a boca da barra aberta; entretanto, ao voltar de suas atividades,
ela está fechada. Esse processo de obstrução da foz impede que os barcos
retornem ao seu local de origem ao final da pesca. O assoreamento da foz
é provocado pela diminuição do fluxo de água que deveria dar fluidez ao
rio Riacho constantemente, mas o controle realizado pela Fibria impede
que isso aconteça. Todavia, esse não é o único problema que a comunida-
de vem enfrentando devido ao controle dos recursos hídricos da região.
Uma das grandes consequências que esse processo de captação de recur-
sos hídricos provocou para a comunidade nos últimos anos, segundo os
pescadores entrevistados, foi a extinção de várias espécies de pescado de-
vido à alteração no fluxo de água. O rio Riacho possuía, anteriormente,
uma diversidade de espécies de peixes que fazia parte da alimentação de
boa parte dos moradores da comunidade, bem como era fonte de renda
para eles. A seguir, o relato de alguns dos pescadores, obtidos através de
entrevistas realizadas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações
Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo (GEPPEDES):
Peixe não tem mais, peixe quando vem é de fora daqui, porque a
gente não tem mais peixe, então você vai aqui no rio, aqui em bai-
xo tem um rio... você vai aqui e você não vê peixe, antes você via
peixe batendo aí, tainha... aquele outro peixe lá... Caçari. É o que
mais tinha aqui em baixo, e agora você não acha mais nenhum, e
o Caçari é o peixe mais resistente que tinha aqui.
[Relato de uma pescadora de Barra do Riacho, em entrevista rea-
lizada no dia 9 de agosto de 2016].
[...] eu comecei a pescar com o meu tio, com outras pessoas que já
faleceram, agora que ele até viveu logo, porque já foram embora. E
pra não perder o lugar eu dormia na praia lá até amanhecer o dia.
E eu vinha do sertão né, trabalhava na roça, então eu vinha pra
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