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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
Na primeira parte do texto, apresento como se deu o processo de criação
da proposta de preservação de parte da área costeira do bioma marinho
entre as localidades de Nova Almeida, no município da Serra, e Barra do
Riacho, em Aracruz. Cabe ressaltar que, mesmo com o projeto pronto, as
unidades de conservação só puderam ser efetivamente criadas quase dez
anos depois, com a pretensão do governo de Paulo Hartung de permitir a
instalação de um estaleiro na região. Para tanto, a segunda parte do arti-
go discute como foi o processo de instalação do Estaleiro Jurong Aracruz
(EJA) na Barra do Sahy, área contígua à área pretendida para preserva-
ção. Na terceira parte, analiso os entrecruzamentos da chegada do EJA
e do projeto de criação da APA Costa das Algas e REVIS de Santa Cruz,
e como, neste caso, a despeito de produzir impactos, o empreendimento
esteve diretamente relacionado com as unidades, as quais, cabe ressaltar,
ainda não têm um plano de manejo. Segundo dados coletados, os dois
projetos teriam se concretizado sob a justificativa da possibilidade de um
convívio harmônico entre ambos, a partir do discurso do desenvolvimen-
to sustentável.
Para o presente trabalho, utilizei as entrevistas realizadas em conjunto
com o programa de extensão do Grupo de Estudos e Pesquisa em Popula-
ções Pesqueiras e Desenvolvimento no Espiríto Santo (GEPPEDES) com
alguns pescadores e outros moradores de Barra do Riacho e com os gesto-
res ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBio), responsáveis pelas duas unidades de conservação. Além
do material das entrevistas, analisei os documentos dos projetos das duas
UC’s e do EJA e pesquisei trabalhos já realizados na área por meio de
revisão bibliográfica.
PROCESSO DE CRIAçãO DA APA COSTA DAS ALGAS E REVIS DE
SANTA CRUZ
O município de Aracruz, desde a década de 1960, tem se destacado
como um palco importante para os projetos desenvolvimentistas do es-
tado, em especial a cadeia da produção da celulose, que inclui: a) a fá-
brica da Fibria; b) o Portocel I, um dos maiores portos exportadores des-
sa commodity, em fase de expansão; e c) duas empresas produtoras de
químicos para o branqueamento da celulose, Evonik Degusa e Canexus.
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