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Capítulo 3

                           te. Estes fundos, cujo teor em carbonatos é superior a 90%, são
                           ainda estruturados por artículos de Halimeda, além de fragmen-
                           tos de outras algas verdes como Udotea e Penicillus. Este ambien-
                           te abriga uma diversificada flora de macroalgas bênticas ainda
                           muito pouco estudada. Um outro aspecto biogeográfico digno de
                           nota é a ocorrência de um banco de algas pardas de grandes di-
                           mensões (kelps) que abriga duas espécies endêmicas do gênero
                           Laminaria (Joly & Oliveira, 1964 apud IBAMA, 2006, s.p.).

                    No entanto, o relatório também destaca que, em relação à pressão an-
                    trópica, a região costeira e marinha dos municípios de Aracruz, Fundão
                    e Serra é classificada como de alto nível pelo mapa de ações antrópicas
                    do documento acima citado. Isto ocorre devido à cidade de Aracruz tam-
                    bém ser palco importante para projetos desenvolvimentistas do estado
                    do Espírito Santo, principalmente nas modalidades portuária, industrial
                    e de exploração de petróleo e gás. Barra do Riacho engloba os dois con-
                    textos, de área prioritária para conservação e de área dedicada à expan-
                    são econômica. Portanto, para preservar os estoques marinhos da região
                    dos impactos recorrentes das empresas, ambientalistas locais passaram
                    a defender, no início dos anos 2000, a criação de uma área de proteção
                    marinha. Em 2002, um primeiro pedido formal para a criação de uma
                    UC se concretizaria com a ameaça da instalação de uma nova empresa,
                    a Thotham Mineração Marítima Ltda., que pretendia explorar as algas
                    calcárias em larga escala no litoral de Santa Cruz (SANTOS, 2007).
                     A primeira proposta de UC voltada para a área foi a de um Parque Nacio-
                    nal Marinho (PARNA). O pedido solicitando a criação do PARNA de Santa
                    Cruz foi protocolado em 27 de novembro de 2002 na Gerência Executiva
                    do IBAMA no Espírito Santo (IBAMA, 2007). De acordo com um dos en-
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                    trevistados , as comunidades de Santa Cruz, Barra do Sahy e Barra do Ria-
                    cho tiveram um papel relevante na solicitação do pedido para a criação da
                    UC. No relatório analisado, consta que, além da intenção de se preservar
                    as características biológicas locais, outro ponto importante para a criação
                    de uma UC era garantir que os usos dos recursos da área fossem restritos
                    à atividade pesqueira de pequena escala, própria das comunidades que


                    1   Entrevista realizada pelo GEPPEDES, em junho de 2017, com morador de Barra do
                    Riacho (ES).




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