Page 27 - Revista - Rio e Mar
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está assentado na ideia de que os órgãos ambientais não   preservação não, eu sou a favor da preservação, mas meu medo
            são capazes de promover a proteção do rio Doce e nem de   é o plano de manejo que vai ser construído as regras.” (comer-
            impedir o desvio de suas águas (inclusive pelo canal Cabo-  ciante de Regência Augusta, 2016).
            clo Bernardo) e das lagoas da região, muitas das quais si-
            tuadas em propriedades privadas. Não se sabe ainda qual   O CRIME-DESASTRE DA SAMARCO:
            tipo de reserva sairá do papel, há indícios de que venha a   FORAM TODOS ATINGIDOS
            ser uma área de proteção ambiental (APA). Todavia, é pre-
            ciso que a proposta seja, de fato, discutida com os morado-
            res locais.

            “Então agora eles fizeram [...] as daneiras deles aí e tá querendo
            fazer o proveito pra poder fazer uma reserva ou alguma coi-
            sa assim, mas a gente tem que saber o que que a gente vai [e]
            como a gente vai viver dentro daquela reserva, né? Se a gente
            tem possibilidade de tá ali pra morar... pra morar ali pra viver
            ali dentro, se não eles também têm que arcar com a conse-
            quência que eles fizeram pra poder a gente saber onde a gente
            vai morar, né? E num é assim, tocar igual toca bicho que nem
            os bicho pode sair do local também que tá.” (morador de Entre
            Rios, 2016).
            “Antes as pessoas não precisavam de órgãos pra poder sobre-
            viver, simplesmente eles viviam da agricultura familiar, deles
            mesmos. Colhiam e plantavam, entendeu? Fazia parte da con-
            duta deles saírem cedo, caçar, pescar, hoje a pessoa é privada
            de tudo, agora a pessoa não pode nem tomar um banho numa
            lagoa! Entendeu? Vocês acham que isso, na cabeça de umas
            pessoas mais velhas seria bom? Ah, chegar uma unidade de
            conservação, você não pode cortar nem o ganho do seu lote
            porque senão você vai acabar sendo punido!” (morador de
            Areal, 2016).                                         Fotos 35, 36 – Detalhes de pinturas realizadas no muro da escola pú-
                                                                  blica em Regência Augusta, autorias de Aline Trigueiro e Jéssica Latif/
            “É que a gente foi pra Canavieiras e a gente conheceu a RE-
                                                                  GEPPEDES, 2017.
            SEX, fui no lugar onde tá começando e outro tem mais de cin-
            co anos, dez anos e em 2002 teve uma proposta de reserva pra   A atividade da pesca, central em Regência e Barra do Ria-
            Regência, onde que foi discutida entre as associações e ficou   cho, foi diretamente afetada pela chegada da lama na foz
            aquele tempo lá e agora com essa vinda da lama, reabriu de   do rio Doce e no oceano, e pelo seu processo de espa-
            novo aquela discussão [...]. Como é que vai ser e de 2002 pra cá   lhamento pelos demais corpos hídricos, repercutindo na
            as coisas mudaram, crianças cresceram, jovens, outra cabeça   vida de pescadores e moradores locais .
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            agora. Então a comunidade ela quer informação, como é que
            vai ser?! Como é que é?! Eu sinceramente, eu não sou contra a   2  O trabalho de LEONARDO, F. et al. (2017), realizado em parceria

                                                                                                                        27
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