Page 111 - Trabalho do Ir.`. Ap.´. Prof. VALDINEI GARCIA
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doado,  mais  aparecerão  pessoas  querendo  receber,  seja  por  necessidade  real,  seja  por
            acomodação.

            Muitas pessoas se colocam contra o assistencialismo, que é um tipo particular de beneficência,
            enfatizando  que  o  correto  é  “ensinar  a  pescar”  e  não  simplesmente  “dar  o  peixe”.  Acham  o
            assistencialismo  nocivo  ao  “dar  o  peixe”,  pois  automaticamente  é  criada  a  dependência  e
            redução  da  auto-estima.    Entretanto, é  inegável  que se  uma  pessoa  está  morrendo  de  fome,
            torna-se necessário dar o alimento antes de cuidar do médio e longo prazo.


            Para  estarem  capacitadas  a  aprenderem  a  pescar,  as  pessoas  precisam  antes  de  assistência,
            apoio, carinho e compaixão.  Além disso, existe o grande problema de controle da eficácia dos
            recursos  destinados  à  beneficência:  foi  verificado  que  normalmente  nas  organizações  que
            fazem “mero assistencialismo” mais de 80% dos recursos vão para os usuários finais, ou seja,
            para aqueles que realmente precisam de ajuda, enquanto que nas ONGs que “ensinam a pescar”,
            cerca  de  85%  das  doações  terminam  no  bolso  dos  professores  e  não  no  bolso  dos  alunos
            carentes. Se, por qualquer motivo, os ensinamentos não forem devidamente absorvidos pelos
            alunos carentes, trata-se, em última análise, de recursos desperdiçados.

            Precisamos de ambas as posturas, pois parece ter uma interdependência nestas iniciativas. De
            um lado, para que as pessoas carentes possam ter condições de absorver algum ensinamento é
            necessário que suas necessidades básicas de alimentação estejam atendidas.  Por outro lado, o
            assistencialismo puro e simples, sem preocupação de capacitação das pessoas para superação
            daqueles         problemas,         tende        a        perpetuar         a        dependência.

            A beneficência na visão de Cristo e do Cristianismo


            Cristo recomendou fortemente a caridade e, mais que isso, colocou-a como condição necessária
            para a felicidade futura.  Nos ensinamentos de Cristo, a caridade é muito mais que esmola ou
            assistência emergencial. Para ele, a verdadeira caridade é aquela que realmente tira o outro da
            situação ruim em que se encontra. Está implícito nestes ensinamentos que o que diferencia dois
            seres humanos são apenas as circunstâncias e não a essência do ser. Estas circunstâncias são
            precisamente as variáveis que devem ser mudadas ou atenuadas através da caridade.

            (Mateus 6.2 a 6.4) "Quando derem alguma coisa a um pobre, nada de alarde, como fazem os
            fingidos, tocando trombeta nas sinagogas e nas ruas para chamar a atenção para os seus atos de
            caridade. Digo-vos com toda a seriedade: esses já receberam toda a recompensa que poderiam
            ter. Mas  quando  fizerem  um  favor  a  alguém,  façam-no  em  segredo,  sem  dizerem  à  mão
            esquerda  o  que  faz  a  direita.  Vosso  Pai,  que  conhece  todos  os  segredos,  vos  recompensará"
             (Mateus, 7:12)   “Portanto, tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei o mesmo também
            vós        a       eles:      nisso       está       a        Lei       e       os       Profetas”

            Dessa  forma,  a  eliminação  da  pobreza  viria  como  consequência  do  cumprimento  destes
            mandamentos.  Max Weber, no livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, mostrou
            algumas  diferenças  entre  o  catolicismo  e  o  protestantismo  e  suas  consequências  para  a
            sociedade. No catolicismo, a salvação é obtida apenas por meio da fé na ressurreição de Cristo,
            com a necessária intermediação da igreja, mas, segundo Tiago, a fé sem obras é vazia.  Dessa
            forma, as boas ações, ou caridade, são importantes para a legitimação da salvação. Na teologia




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