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Langdon olhou para a esquerda, para além da pequena enseada conhecida como Tidal Basin,
em direção à silhueta graciosamente arredondada do Jefferson Memorial — o monumento em
homenagem a Jefferson que muitos chamavam de Panteão dos Estados Unidos da América. Bem na
frente do carro, um segundo monumento, o Lincoln Memorial, se erguia com rígida austeridade,
lembrando com suas linhas ortogonais o antigo Partenon de Atenas. Mas foi mais adiante que Langdon
viu a peça central da cidade — a mesma coluna que avistara do céu. Sua inspiração arquitetônica era
muito, muito mais antiga do que os romanos ou os gregos.
O obelisco egípcio dos Estados Unidos.
A coluna monolítica do Monumento a Washington assomava bem à frente, iluminada contra o
céu como o majestoso mastro de um navio. Da perspectiva oblíqua de Langdon, o obelisco parecia
suspenso... oscilando no céu soturno como se estivesse num mar agitado. Langdon se sentia
igualmente sem chão. Sua visita a Washington tinha sido totalmente inesperada. Acordei hoje de manhã
imaginando um domingo tranquilo em casa... e agora estou a poucos minutos do Capitólio.
Naquela manhã, às 4h45, Langdon havia mergulhado em uma água completamente calma,
iniciando o dia como sempre fazia, percorrendo 50 vezes a piscina deserta de Harvard. Sua forma física
já não era exatamente a mesma de seus dias de estudante, quando jogava polo aquático e era um
típico rapaz norte-americano, mas ele ainda era esbelto e tinha um corpo tonificado e respeitável para
um homem de 46 anos. A única diferença agora era a quantidade de esforço que precisava fazer para
mantê-lo assim.
Ao chegar em casa, por volta das seis, ele iniciou seu ritual matutino de moer manualmente os
grãos de café de Sumatra e saborear o aroma exótico que enchia sua cozinha. Naquela manhã, porém,
surpreendeu-se ao ver a luzinha vermelha piscando na secretária eletrônica. Quem é que liga às seis da
manhã de um domingo? Apertou o botão e escutou o recado.
“Bom dia, professor Langdon, sinto muitíssimo por ligar assim tão cedo.” A voz educada hesitava
perceptivelmente e exibia um leve sotaque do sul dos Estados Unidos. “Meu nome é Anthony Jelbart e
sou assistente executivo de Peter Solomon. O Sr. Solomon me disse que o senhor costuma acordar
cedo... ele precisa contatá-lo com urgência. Assim que receber este recado, será que poderia fazer a
gentileza de ligar direto para ele? O senhor já deve ter o novo número pessoal dele, mas caso não
tenha é 202 329-5746.”
Langdon sentiu uma súbita preocupação com seu velho amigo. Peter Solomon era um homem
cortês e de boas maneiras, com certeza não era do tipo que ligava no domingo, quando o dia ainda mal
nasceu, a menos que houvesse algo muito errado.
Langdon parou de fazer o café e foi depressa até o escritório retornar a ligação.
Espero que ele esteja bem.
Solomon era seu amigo e mentor e, embora fosse apenas 12 anos mais velho do que Langdon,
representava uma figura paterna para ele desde que se conheceram na Universidade de Princeton. Em
seu segundo ano, Langdon tivera de assistir a uma palestra vespertina de um renomado convidado, o
jovem historiador e filantropo Peter Solomon. Falando com um entusiasmo contagiante e apresentando
uma fascinante visão da semiótica e da história dos arquétipos, Solomon despertou em Langdon o que
mais tarde se transformaria numa paixão da vida inteira pelos símbolos. Mas não fora o brilhante
intelecto de Peter, e sim a humildade em seus bondosos olhos cinzentos, que dera a Robert a coragem
para lhe escrever uma carta de agradecimento. O estudante de segundo ano jamais havia sonhado que
um dos mais ricos e intrigantes jovens intelectuais dos Estados Unidos pudesse lhe responder. Mas ele
respondeu. E isso marcou o começo de uma amizade verdadeiramente gratificante.
Célebre acadêmico cujos modos calmos desmentiam sua poderosa linhagem, Peter vinha da
riquíssima família Solomon, cujo nome podia ser visto em prédios e universidades de todo o país. Assim
como os Rothschild na Europa, os Solomon sempre carregaram consigo todo o imaginário da realeza e
do sucesso norte-americanos. Peter assumira a posição de chefe da família ainda jovem, após a morte
do pai. Agora, aos 58 anos, já havia ocupado os mais diversos cargos de poder ao longo da vida.
Atualmente, estava à frente do Instituto Smithsonian.
Langdon de vez em quando provocava Peter, dizendo que a única mácula em seu pedigree irretocável
era o diploma de uma universidade de segunda categoria — Yale.
Ao entrar em seu escritório, Langdon se espantou ao ver que também havia recebido um fax de
Peter.
Peter Solomon
ESCRITÓRIO DO SECRETÁRIO
INSTITUTO SMTTHSONIAN
Bom dia, Robert,