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—  Não,  a  pirâmide  é  um  mapa  de  verdade,  eu  garanto.  E  indica  um  lugar  real.  É  preciso
          protegê-lo.  Não  há  como  enfatizar  suficientemente  a  importância  disso.  O  senhor  está  sendo
          perseguido,  mas,  se  conseguir  chegar  sem  ser  visto  até  onde  eu  estou,  poderei  lhe  dar  abrigo..,  e
          respostas.
                 O homem titubeou, parecendo desconfiado.
                 — Meu amigo — começou o velho, escolhendo as palavras com cuidado.
                 — Existe em Roma um refúgio, ao norte do Tibre, que contém 10 pedras do monte Sinai, uma do
          próprio céu e outra com o semblante do pai obscuro de Luke. O senhor entende a minha localização?
                 Houve uma pausa comprida do outro lado da linha, e então Langdon respondeu:
                 — Entendo, sim.
                 O velho sorriu. Achei que fosse entender, professor.
                 — Venha agora mesmo. Certifique-se de não estar sendo seguido.




          CAPÍTULO 71


                 Mal’akh estava em pé na quentura enfumaçada de seu chuveiro. Depois de lavar o que restava
          do cheiro de etanol, sentia-se novamente limpo, os poros se abrindo com o calor. Então deu início a seu
          ritual.
                 Primeiro, esfregou depilatórios químicos pelo corpo e pelo couro cabeludo tatuados, retirando
          qualquer  vestígio  de  pelos.  Imberbes  eram  os  deuses  das  sete  ilhas  de  Helíades.  Em  seguida,
          massageou óleo de Abramelin sobre a pele macia. Abramelin é o óleo sagrado dos grandes Magos. Por
          fim,  girou  a  alavanca  do  chuveiro  com  força  para  a  esquerda,  deixando  a  água  gelada  cair  em  seu
          corpo. Permaneceu um minuto inteiro debaixo da ducha fria para fechar os poros e guardar lá dentro o
          calor e a energia. O frio servia para lembrá-lo do rio gelado em que havia começado sua transformação.
                 Estava tremendo quando saiu do chuveiro, mas em segundos o calor dentro dele subiu pelas
          camadas de sua carne para aquecê-lo. As entranhas de Mal’akh pareciam uma fornalha. Ele parou nu
          diante do espelho e admirou a própria forma. Aquela poderia ser a última vez que veria a si mesmo
          como um simples mortal.
                 Seus pés eram as garras de um gavião. Suas pernas — Boaz e Jaquim —, os antigos pilares da
          sabedoria.  A  virilha  e  o  abdômen  eram  as  arcadas  do  poder místico.  Pendendo  sob  essa  arcada,  o
          imenso sexo exibia os símbolos tatuados de seu destino. Em outra vida, aquele pesado bastão de carne
          tinha sido sua fonte de prazer carnal. Mas agora não mais.
                 Eu fui purificado.
                 Assim  como  os  monges  eunucos  místicos  de  Katharoi,  Mal’akh  havia  removido  os  próprios
          testículos.  Sacrificara  sua  potência  física  em  troca  de  outra  mais  valiosa.  Os  deuses  não  têm  sexo.
          Depois de se livrar daquela imperfeição humana juntamente com o impulso terreno da tentação sexual,
          Mal’akh se igualara a Urano, Átis, Sporus e aos grandes mágicos castra ti da lenda arturiana. Toda
          metamorfose espiritual é precedida por outra, física. Era essa a lição  de todos os grandes deuses...
          Osíris, Tammuz, Jesus, Shiva e até mesmo o próprio Buda.
                 Devo me despir da vestimenta de homem.
                 De  repente,  Mal’akh  dirigiu  o  olhar  para  cima, passando  pela  fênix  de  duas  cabeças  em  seu
          peito, pelo mosaico de antigos sigilos que lhe adornava o rosto, até chegar ao topo da cabeça. Inclinou-
          a na direção do espelho, mal conseguindo ver o círculo de pele não tatuada que aguardava ali. Aquele
          lugar era sagrado. Conhecido como fontanela, era a única área do crânio humano que ainda não se
          encontrava  ossificada  no  nascimento.  Uma  janela  para  o  cérebro.  Embora  esse  portal  fisiológico  se
          fechasse em poucos meses, ele continuava sendo um vestígio simbólico da conexão perdida entre os
          mundos exterior e interior.
                 Mal’akh  analisou  aquele  trecho  sagrado  de  pele  virgem,  rodeado  por  um  ouroboros  —  uma
          serpente  mística  devorando  o  próprio  rabo.  A  pele  nua  pareceu  retribuir  seu  olhar...  brilhando  de
          promessa.
                 Robert  Langdon  logo  iria  desvendar  o  grande  tesouro  de  que  Mal’akh  precisava.  Quando  o
          obtivesse,  o  vazio  no  topo  de  sua  cabeça  seria  preenchido,  e  ele  finalmente  estaria  pronto  para  a
          transformação final.
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