Page 90 - O vilarejo das flores
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—Sim meu querido - dizia Noeli para Zaquiel com gestos de
calma- Ela é jovem e foi enganada. Os jovens têm essas ilusões
que casamentos românticos podem dar certo. Esquecem posição e
família. Mas depois que acertam a cabeça e percebem que vão perder
tudo, sossegam e aceitam a realidade.
—Tia, nunca pensei que pudesse passar por uma situação dessas.
Que vergonha ter que fugir assim.- disse Brigida indignada- E não
poderemos voltar. O vilarejo inteiro ouviu aquele infeliz falar de
Aimeé.
—Não se preocupe. - acalmava Noeli friamente- O tempo resolve
tudo. Dizendo isso, Noeli retirou-se para a cozinha para falar com a
cozinheira.
Zaquiel e Brígida ainda estavam aflitos com a mudança.
As vendas não estavam tão boas como no vilarejo. Na cidade eles
tinham concorrência e esta ganhava. Aimeé, desde que chegara, não
levantava da cama. Seu desespero piorou quando se viu em outra
cidade. Ficou enlouquecida de tal modo que tiveram que chamar um
boticário para lhe dar um calmante.
Após 15 dias, Brígida nem precisou mais fazer uso do
medicamento. Aimeé passou a não esboçar nenhuma emoção. Ficava
com o olhar vazio deitada na cama como um moribundo. Parou de
comer e apenas chorava em silêncio. Brígida tentava dar-lhe comida,
mas ela cuspia. Apenas bebia água.
Aimeé passava por um turbilhão de pensamentos que
beiravam uma dissecação mental. No começo achava que Francis iria
procurá-la incansavelmente. Depois achava que seus pais estavam
certos; ele a enganara. Agora pensava que Francis poderia ter sido
um sonho, do qual ela acordou e não tinha como voltar.
Sentia-se sem forças, sem motivo para existir. Sua mãe sempre vinha
vê-la e lhe trazia suas refeições favoritas, mas nada a animava.
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