Page 14 - Revista Ateísta | 4ª Edição

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A IMPROBABILIDADE

DE

Muito do que as pessoas fazem é em nome de forma mais famosa desse argumento é o da analogia do
Deus. Irlandeses se explodem em seu nome. Árabes relojoeiro, cunhada por William Paley, no século XVIII.
se explodem em seu nome. Imãs e aiatolás oprimem Mesmo para alguém que nunca tenha visto um relógio,
mulheres em seu nome. Papas e padres celibatários o caráter obviamente projetado de suas engrenagens e
destroem a vida sexual das pessoas em seu nome. molas e como elas interagem juntas para cumprir um
Shohets judeus cortam as gargantas de animais em propósito forçariam um observador comum a concluir
seu nome. As grandes proezas da religião no passado que "esse relógio deve ter tido um criador: que ele existiu
(carnificinas nas Cruzadas, torturas na Inquisição, em algum momento e em algum lugar, que o criou com
massacres realizados por conquistadores, destruição de o exato propósito para o qual o identificamos, que
culturas por missionários, resistência com suporte legal compreende sua construção e projetou o seu uso." Se
a cada nova descoberta científica até o último momento isso for verdade para um relógio relativamente simples,
possível) são ainda mais notáveis. E para que tudo isso com certeza também seria para o olho, orelha, rim,
serviu? Acredito que esteja cada vez mais claro que a articulações, cérebro? Essas estruturas belas, complexas,
resposta é absolutamente nada. Não há razão para intrincadas e obviamente criadas com um propósito
acreditar que quaisquer deuses existam e muitas razões devem ter um criador, seu próprio relojoeiro: Deus.
para acreditar que eles não existam e nunca existiram.
Tudo isso tem sido uma gigantesca perda de tempo e de E assim segue o argumento de Paley, com
vida. Seria uma piada de proporções cósmicas se não uma conclusão que praticamente qualquer pessoa
fosse tão trágico. ponderada e sensível descobre sozinha em algum
momento da infância. Durante maior parte da
Por que as pessoas acreditam em Deus? Para a História, parece ter sido um argumento convincente
maioria das pessoas, a resposta ainda é alguma versão e obviamente verdadeiro. Porém, como resultado de
do antigo Argumento do Design. Olhamos ao nosso uma das revoluções intelectuais mais surpreendentes da
redor e vemos a beleza e a complexidade do mundo: o História, sabemos que esse argumento está errado, ou
movimento aerodinâmico da asa de uma andorinha, a é no mínimo supérfluo. Agora sabemos que a ordem e
delicadeza das flores e das borboletas que as fertilizam, o suposto propósito do mundo surgiram por meio de
a diversidade de vida em cada gota de água vista pelas um processo completamente diferente, um processo
lentes de um microscópio, a copa de um gigantesco pau- que funciona sem a necessidade de um projetista e
brasil pelas lentes de um telescópio. Contemplamos a que é basicamente consequência das leis mais simples
complexidade eletrônica e perfeição óptica dos nossos da física. Esse é o processo da evolução por seleção
próprios olhos. Com um pouco de imaginação, essas natural, descoberto por Charles Darwin e, de forma
coisas podem nos encher de um sentimento de encanto independente, por Alfred Russel Wallace.
e reverência. Além disso, não podemos ficar perplexos
pela óbvia semelhança entre organismos vivos e projetos O que todos os objetos que parecem ter
planejados com esmero por engenheiros humanos. A um projetista têm em comum? A resposta é a