Page 10 - Revista Ateísta | 4ª Edição
P. 10
10 ATEÍSTA
Ser ateu faz pouco (ou não) religiosas. Em países pouco religiosos, os
presumíveis benefícios da religiosidade ou se reduzem,
ou se desfazem completamente. Conforme concluem
os autores, “a forma como a religiosidade pessoal afeta
mal para a felicidade e a satisfação com a vida é modelada por
contextos sociais” (p. 103). Nesse caso, um religioso
poderia afirmar “Estou bem, graças à convivência com
meus colegas religiosos”.
a saúde reuniram e discutiram evidências de que a religiosidade
Nadando contra a corrente, dois pesquisadores
pode também fazer mal (Weber & Pargament, 2014).
mental? Por um lado, pessoas religiosas podem ter uma saúde
mental levemente melhor por crerem num Deus que as
ama, por receberem suporte social de sua comunidade
religiosa e por serem mais esperançosas. Por outro lado,
alguns religiosos sofrem ao entenderem que pecaram,
ao se verem punidas e/ou abandonadas por Deus e ao
demorarem mais a procurar um tratamento profissional
Creio que você já tenha ouvido a expressão quando desenvolvem transtornos mentais. Com esse
“Estou bem, graças a Deus”. Sua mensagem básica é contraponto, os autores lembram que nem tudo o que
clara: o criador e regente do universo estaria cuidando emana das religiões é luz.
do bem-estar do religioso. Duvida? Hoje em dia, até
mesmo alguns cientistas parecem estar afirmando isso. Além disso, tem sido apontado que a maior
Parecem. Entre os dados de pesquisa e o público leigo, parte dos estudos sobre religiosidade e saúde mental
muitos vieses midiáticos e individuais podem acabar é feita com amostras predominantemente religiosas.
reforçando a ideia de que, enquanto ser religioso “faz Vou esclarecer a implicação disso a partir de uma
bem”, ser ateu “faz mal”. Por isso, é bom que duvidemos, analogia. Imagine que várias pesquisas constatem que
sim. Mas, mais do que isso, é bom que a gente pare alunos que estudam mais em casa têm mais satisfação
um pouco para analisar o caso – ainda mais porque com suas vidas. A partir disso, seria razoável concluir
estão em jogo algumas premissas cientificamente que pessoas que não são estudantes – porque evadiram
fundamentadas. a escola ou porque já se formaram – são menos
Nas últimas décadas, muitos estudos têm
constatado que, quanto mais religiosa é uma pessoa,
melhor é sua saúde mental. Por exemplo, algumas
revisões sistemáticas constataram que níveis mais
elevados de religiosidade estão correlacionados a
menos sintomas depressivos e de ansiedade, a menos
comportamentos de risco – como abusar de substâncias
psicoativas – e a uma autoestima melhor (Bonelli &
Koenig, 2013; Yonker, Schnabelrauch, & DeHaan, 2012).
Diante de achados como esses, fica parecendo que ser
ateu realmente não é um bom negócio.
Mas, como as aparências podem enganar,
alguns pesquisadores têm começado a questionar
a implicação desses dados. Em primeiro lugar, a
associação entre religiosidade e saúde mental é, em geral,
fraca e relativa. Por exemplo, achados de uma meta-
análise sugerem que a religiosidade ameniza apenas
modestamente a presença de sintomas depressivos,
e principalmente entre pessoas que estão passando
por situações de muito estresse (Smith, McCullough
& Poll, 2003). Num estudo multicêntrico (Stavrova,
Fetchenhauer & Schlösser, 2013), foi encontrado que,
embora pessoas mais religiosas tendam a ser mais
felizes e satisfeitas com a vida, isso é influenciado
por características culturais locais. Exemplos dessas
características são a valorização da religiosidade e a
presença de atitudes negativas em relação a pessoas