Page 6 - Revista Ateísta | 4ª Edição
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Intolerância
religiosa:
um reflexo de nossa ignorância
A ntes de falarmos de intolerância religiosa, primitivas (DUARTE, 2013). Alguns antropólogos
entendem que as primeiras manifestações religiosas se
é bom traçarmos uma linha que diferencie
dedicavam ao culto dos fenômenos naturais (animismo),
discordância de intolerância. As pessoas
dos animais (totemismo), da agricultura primitiva e da
podem discordar, debater, questionar e, até
fertilidade.
mesmo, reagir contrariamente à prática de
determinadas crenças (de forma pacífica),
isso transita no espaço da divergência de A partir do Paleolítico Superior, com as
opinião. Já a intolerância tem um viés de preconceito, grandes migrações, as religiões começaram a se
na tentativa de impedir que determinada crença seja desenvolver de acordo com a evolução do homem e
professada ou praticada. Claro que existem crenças da sociedade. Diversas manifestações primitivas foram
que envolvem práticas questionáveis e que conspiram (re)significadas e tomaram rumos diferentes de acordo
contra valores éticos ou contra o ser humano, enquanto com o grupo social no qual encontravam-se. Mas
indivíduo – essas devem ser combatidas. Por isso, foi desse olhar primitivo que as religiões modernas
precisamos deixar demarcado que não é intolerância desenvolveram-se. Como exemplo mais claro desse
questionar alguns valores defendidos pela religião, sincretismo, temos o cristianismo, que é uma religião
como, por exemplo, a proibição de transfusão de sangue oriunda do Judaísmo, trazendo consigo algumas de
em situações de risco à vida, o sacrifício de animais etc. suas características. Para resumir essa evolução e dar
Não é intolerância questionar quando determinado
grupo tenta impor, à sociedade, dogmas religiosos,
desrespeitando o Estado laico. Ao contrário, essas ações
encontram-se no pleno direito de questionamento,
desde que nunca sejam acompanhadas de atos ou
palavras de incitação à violência. Isto posto, também,
faz-se necessário um breve olhar sobre a constituição
histórica das religiões.
As religiões são manifestações culturais humanas.
As ocorrências daquilo que podem ser
considerados pensamentos primitivos de uma proto
espiritualidade remontam ao período do Paleolítico
Inferior (300.000 AEC), quando o homem começou
a sepultar seus mortos (GUERRIERO, 2003), prática
que evoluiu para um enterro com uma camada de ocre
vermelho sobre o corpo do morto, o que faz com que
alguns antropólogos apontem essa prática como uma
referência ao sangue.
No Paleolítico Médio, temos as primeiras
expressões de cunho artístico, que são as pinturas
rupestres (40.000 AEC), as quais fazem com que
estudiosos entendam que os homens pré-históricos, há
pelo menos 30 ou 40 mil anos, possuíam uma capacidade
simbólica, intelectual e artística semelhante ao homem
moderno. Essas manifestações são compreendidas como
ritualistas e tinham importante papel nas sociedades