Page 7 - Revista Ateísta | 4ª Edição
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07 ANO 2018 OPINIÃO DE: Wagner Kirmse Caldas
Bar do Ateu
um salto no tempo, situando-nos nos dias atuais, no link (In)tolerância para quê?
a seguir podemos ver a árvore evolutiva das religiões, a Num mundo globalizado, e cada vez mais
partir do Animismo: https://goo.gl/wHzS4z integrado, faz-se necessário que pratiquemos, com mais
vigor, a empatia e a alteridade, reconhecendo no outro
um indivíduo de direito e de valores particulares, os
A Religião no Brasil em tempos modernos quais devem ser respeitados em sua essência, à medida
Sempre que sou convidado a falar de que tais valores não produzam malefícios sociais.
intolerância religiosa, como forma de quebrar o gelo e
começar um diálogo respeitoso, começo perguntando: Com relação à intolerância religiosa, o grupo
qual a porcentagem de cristãos que vocês acham que que mais sofre com isso, no Brasil, é o das religiões
existem no mundo? É interessante observar que, na de matrizes africanas, as quais são muito belas em
maioria das vezes, os envolvidos tendem a fazer uma suas raízes e histórias, mas que sofrem o preconceito
projeção da realidade brasileira no cenário mundial. cristalizado daqueles que não conseguem perceber sua
Muitos deles assustam-se ao saber que a coisa não é riqueza cultural. Temos muitos exemplos de situações
bem assim, alguns ficam desconcertados ao descobrir onde grupos hostilizam as casas de oração, terreiros
que o Cristianismo representa menos de 1/3 do e pessoas desse grupo. Frases como “Só Jesus expulsa
planeta. Fazendo um paralelo, enquanto o Cristianismo Ogum das pessoas” foram escritas no muro de uma
representa 31,5% no mundo; no Brasil, ele responde estação de trem, no Rio, em novembro de 2017. Terreiros
por 86,8% da população. Separando as linhas cristãs em de umbanda são destruídos em diversas cidades do
Catolicismo e Protestantismo, no planeta, esses números país. Em 2015, uma criança de 11 anos, saindo de uma
passam a ser 15,9% e 11,6%; por aqui eles representam casa de candomblé, foi atingida por uma pedrada, sua
64,6% e 22,2%, respectivamente (2010). Já os “sem vó comentou para o jornal: “O que chamou a atenção
religião”, que representam 16,3% do Globo, no Brasil são foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar
8%. todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está
voltando’".
Não obstante, a própria hegemonia cristã, no
Brasil, tem suas particularidades regionais. Temos uma Não obstante, muitas vezes, cristãos também
maior concentração de católicos nos Estados do Sul, são vítimas de violência. Em 2017, uma pastora gravou
Sudeste e Nordeste, e os evangélicos aparecem bem um vídeo quebrando imagens de santas, em Botucatu,
representados no Centro-Oeste e Norte. Mesmo com e o ato foi repudiado pelo Conselho de Pastores.
a evidência dos evangélicos nas referidas regiões, ainda Inclusive, imagens de santos são alvos de vandalismo
assim, eles não superam o número absoluto de católicos. com muita frequência: em 2015 uma mulher quebrou,
com uma enxada, uma imagem de Nossa Senhora, em
Belo Oriente (MG) e ainda bradava para a santa reagir.
A imagem da mesma santa foi danificada por um idoso,
em Ubá, em 2017. Esses são poucos exemplos, mas, um
levantamento realizado pelo Ministério dos Direitos
Humanos, em 2015, revela que, no Brasil, registra-se
uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas.
Falta à nossa sociedade um pouco de
esclarecimento. A educação pode ser uma via de
contribuição para o fim desse preconceito. Somos tão
plurais e com tantos traços culturais, oriundos dos tantos
imigrantes que vieram para cá, que manifestações de
intolerância religiosa tendem a evidenciar uma limitação
no processo formativo daqueles que se dispõem a esse
caminho. Ao tornar possível a compreensão de que a
religião é um traço da cultura de um povo, podemos
abrir espaço para a compreensão de que é um direito
individual do ser humano professar sua fé, sua crença,
livremente.
Outrossim, algo que me agrada na maioria
das religiões é que elas pregam, antes de tudo, o amor
ao próximo. Num olhar utópico, tenho a tendência a
acreditar que o nosso país seria muito melhor se todos
aqueles que se intitulam como religiosos, praticassem
essa máxima com aqueles que praticam sua religiosidade
de forma diferente.
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