Page 104 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                            UMA ESTRANHA DESCOBERTA




                  Era  uma  vez  duas  meninas  e  dois  meninos:  Susana,  Lúcia,  Pedro  e
                  Edmundo. Esta história nos conta algo que lhes aconteceu durante a guerra,
                  quando tiveram de sair de Londres, por causa dos ataques aéreos. Foram os
                  quatro  levados  para  a  casa  de  um  velho  professor,  em  pleno  campo,  a
                  quinze  quilômetros  de  distância  da  estrada  de  ferro  e  a  mais  de  três
                  quilômetros da agência de correios mais próxima.

                         O professor era solteiro e morava numa casa muito grande, com D.
                  Marta,  a  governanta,  e  três  criadas,  Eva,  Margarida  e  Isabel,  que  não
                  aparecem muito na história.

                         O professor era um velho de cabelo desgrenhado e branco, que lhe
                  encobria a maior parte do rosto, além da cabeça.

                         As  crianças  gostaram  dele  quase  imediatamente.  Mas,  na  primeira
                  noite, quando ele veio recebê-las, na porta principal, tinha uma aparência
                  tão estranha, que Lúcia, a mais novinha, teve medo dele, e Edmundo (que
                  era o segundo mais novo) quase começou a rir e, para disfarçar, teve de
                  fingir que estava assoando o nariz.

                         Naquela  noite,  depois  de  se  despedirem  do  professor,  os  meninos
                  foram para o quarto das meninas, onde trocaram impressões:
                         –  Tudo  perfeito  –  disse  Pedro.  –  Vai  ser  formidável.  O  velhinho
                  deixa a gente fazer o que quiser.

                         – É bem simpático – disse Susana.

                         –  Acabem  com  isso!  –  falou  Edmundo,  com  muito  sono,  mas
                  fingindo que não, o que o tornava sempre  mal-humorado. – Não fiquem
                  falando desse jeito!



                         –  Que  jeito?  –  perguntou  Susana.  –  Além  do  mais,  já  era  hora  de
                  você estar dormindo.
                         – Querendo falar feito mamãe – disse Edmundo. — Que direito você
                  tem de me mandar dormir? Vá dormir você, se quiser.

                         –  É  melhor  irmos  todos  para  a  cama  –  disse  Lúcia.  –  Vai  haver
                  confusão, se ouvirem a nossa conversa.

                         – Não vai, não – disse Pedro. – Este é o tipo de casa em que a gente
                  pode  fazer  o  que  quer.  E,  além  do  mais,  ninguém  está  nos  ouvindo.  É
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