Page 112 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Oh, não faça uma coisa dessas, Sr. Tumnus! Não! O senhor nunca
                  deve fazer isso.

                         – Mas, nesse caso – e ele recomeçou a chorar –, ela vai descobrir
                  tudo.  E  vai  mandar  que  me  cor  tem  a  cauda,  serrem  meus  chifres,
                  arranquem  minha  barba.  Com  a  vara  de  condão  é  capaz  de  transformar
                  meus  bonitos  cascos  fendidos  em  horrendos  cascos  de  cavalo.  Mas,  se
                  estiver zangada mesmo, é capaz de me transformar em estátua de fauno.
                  Vou ficar naquela casa horrível, até que os quatro tronos de Cair Paravel
                  sejam ocupados... Sabe-se lá quando isso vai acontecer.

                         –  Tenho  muita  pena,  Sr.  Tumnus,  mas,  por  favor,  deixe-me  ir  pra
                  casa.

                         – Claro que sim. Tenho mesmo de deixar. Agora percebo. Não sabia
                  como eram os humanos até encontrar você. Não iria entregá-la à feiticeira,
                  principalmente  agora,  que  a  conheço.  Vou  acompanhá-la  até  o  lampião.
                  Você tem de achar o caminho até Sala Vazia e Guarda-Roupa.
                         – É claro que eu acho!

                         – Temos de ir bem caladinhos e escondidos. O bosque está cheio de
                  espiões. Existem até árvores do lado dela!

                         O Sr. Tumnus abriu a sombrinha, deu o braço a Lúcia, e lá se foram
                  pela neve. O caminho de volta não foi o mesmo que os levara à caverna do
                  fauno; deslizaram silenciosamente, o mais depressa possível, sem dizerem
                  nada, enquanto Tumnus escolhia sempre lugares mais escuros. Lúcia sentiu
                  um alívio quando chegaram outra vez ao lampião.

                         – E agora, Filha de Eva, já sabe o caminho?

                         Lúcia olhou  atentamente  entre  as  árvores  e  conseguiu distinguir,  à
                  distância, um raio de luz que parecia ser a luz do dia.
                         – Sei; estou vendo o guarda-roupa.

                         –  Então,  já  para  casa.  Espero  que  me  perdoe  por  aquilo  que  eu
                  desejava fazer...

                         – Está perdoado – disse Lúcia, apertando-lhe a mão com afeto. – Só
                  espero que não lhe aconteça nada de mal por minha causa.

                         – Adeus, Filha de Eva. Posso ficar com o lenço?
                         – Pode, é claro.

                         E Lúcia correu na direção do distante raio de luz. E logo, em vez de
                  ramos ásperos, passou a sentir os casacos e, em vez da neve desfazendo-se
                  debaixo de seus pés, encontrou o chão de madeira. Depois, deu um salto
                  para fora do guarda-roupa e se viu na mesma sala vazia do início de toda
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