Page 116 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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considerasse um bom esconderijo, mas porque tinha vontade de continuar a
                  chateá-la com o seu mundo imaginário. Abriu a porta. Os casacos estavam
                  dependurados  como  sempre,  cheirando  a  naftalina;  tudo  era  escuridão  e
                  silêncio, e não havia vestígios de Lúcia. “Ela pensa que sou a Susana e que
                  vim pegá-la, por isso está quietinha lá no fundo” – pensou Edmundo.

                         Ele pulou para dentro e fechou a porta, esquecendo-se de que estava
                  fazendo uma grande bobagem. Começou a procurar Lúcia no escuro. Ficou
                  muito admirado quando não a encontrou. Resolveu abrir de novo a porta
                  para deixar entrar luz. Mas também não foi capaz de dar com a porta. Nada
                  satisfeito,  começou  a  andar  desnorteado,  às  apalpadelas,  em  todas  as
                  direções. Chegou a gritar: “Lúcia! Lu! Onde você está? Sei que está aí, sua
                  boba!”

                         Mas ficou sem resposta. Notou até que a própria voz tinha um som
                  curioso – não o som que é de esperar dentro de um armário, mas um som
                  ao ar livre. Observou também que de repente estava sentindo frio; depois
                  viu uma luz.

                         – Graças a Deus! A porta se abriu sozinha.
                         Esquecendo-se  completamente  de  Lúcia,  começou  a  andar  em
                  direção à luz, julgando ser a porta do guarda-roupa. Mas, em vez de dar na
                  sala vazia, ficou espantado ao passar da sombra de umas árvores grossas
                  para uma clareira no meio de um bosque. Sentia sob os pés a neve dura, e
                  havia  neve  também  nos  ramos.  O  céu  era  azul-pálido,  céu  de  uma  bela
                  manhã de inverno. Na frente dele, entre os troncos, o sol nascia, vermelho e
                  brilhante. Pairava uma calma enorme, como se ele fosse o único ser vivo
                  naquela terra desconhecida. Nem sequer um passarinho ou um esquilo por
                  entre  as  árvores.  E  o  bosque  estendia-se  a  perder  de  vista  em  todas  as
                  direções.  Edmundo  tiritava  de  frio.  Lembrou-se  então  de  que  andava  à

                  procura de Lúcia. Lembrou-se também de que a tratara mal por causa desse
                  país imaginário, que de imaginário nada tinha. Talvez ela estivesse ali por
                  perto. Começou a gritar:
                         – Lúcia! Lúcia! Estou aqui também, o Edmundo!

                         Mas ficou sem resposta. “Deve estar zangada comigo” – pensou. E
                  embora  não  lhe  agradasse  muito  reconhecer  que  procedera  mal,  também
                  não lhe agradava nada estar sozinho naquele lugar estranho, deserto e frio.
                  Gritou de novo:

                         –  Lu!  Estou  arrependido  por  não  ter  acreditado.  Você  tinha  razão.
                  Pode aparecer. Vamos fazer as pazes.

                         Mas para si mesmo dizia: “Isso é mesmo coisa de menina. Embirrada
                  num  canto  por  aí,  não  querendo  aceitar  minhas  desculpas.”  Olhou  mais
                  uma vez em volta e concluiu que o lugar não lhe despertava muita simpatia.
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