Page 119 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Lá de dentro dos agasalhos, a rainha tirou uma garrafinha que parecia
de cobre. Levantando o braço, deixou cair uma gota na neve. Edmundo viu
a gota brilhar, como um diamante, durante um segundo no ar. Mas, no
momento em que tocou na neve, produziu um som sibilante, e logo surgiu
um copo cheio de um líquido fumegante. Imediatamente, o anão o
apanhou, passando-o a Edmundo com uma reverência e um sorriso afável.
Depois de ter começado a beber, Edmundo sentiu-se muito melhor. Era
uma bebida que nunca tinha provado, muito doce e espumante, ao mesmo
tempo espessa, que o aqueceu da cabeça aos pés.
– Beber sem comer é triste, Filho de Adão – disse a rainha. – Que
deseja comer?
– Manjar turco, Majestade, por favor – disse Edmundo.
A rainha deixou cair sobre a neve outra gota da garrafa; no mesmo
instante, apareceu uma caixa redonda, atada com uma fita de seda verde,
que, ao se abrir, revelou alguns quilos do melhor manjar turco. Edmundo
nunca tinha saboreado coisa mais deliciosa, tão gostosa e tão leve. Sentiu-
se aquecido e bem disposto.
Enquanto ele comia, a rainha não cessava de fazer-lhe perguntas. A
princípio, lembrou-se de que é feio falar com a boca cheia, mas logo se
esqueceu, absorto na idéia de devorar a maior quantidade possível de
manjar turco. E quanto mais comia, mais tinha vontade de comer. Nem quis
saber por que razão a rainha era tão curiosa. Aos poucos, ela foi-lhe
arrancando tudo: tinha um irmão e duas irmãs; uma das irmãs já conhecia
Nárnia e tinha encontrado um fauno; ninguém mais a não ser ele, o irmão e
as irmãs sabiam da existência de Nárnia. Ela parecia especialmente
interessada no fato de eles serem quatro, voltando sempre ao assunto.
– Tem certeza de que são só quatro? Dois Filhos de Adão e duas
Filhas de Eva, nem mais, nem menos?
Edmundo abriu a boca cheia de manjar turco, repetindo:
– É isso mesmo, já disse – esquecendo-se do “Majestade”.
Por fim, acabou-se o que era doce, e Edmundo olhava fixamente para
a caixa vazia, louco para que a rainha lhe perguntasse se ainda queria mais.
Sabia ela muito bem o que ele estava pensando. E, melhor ainda, sabia que
o manjar turco estava encantado: quem o provasse, ficaria querendo sempre
mais e chegaria a comer, a comer, até estourar. Mas a rainha, em vez de
oferecer mais, disse:
– Filho de Adão, gostaria muito de conhecer seu irmão e suas irmãs.
Você é capaz de trazê-los aqui para uma visita?
– Posso tentar – disse Edmundo, olhando ainda para a caixa vazia.