Page 124 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Pois é isso que está me preocupando. Lu estava muito bem quando
                  saiu de casa. Desde que chegou aqui, parece que não anda muito boa da
                  cabeça. Ou, então, está virando uma grande mentirosa. Seja lá o que for,
                  não adianta você estar sempre zombando dela, chateando-a num dia, para
                  dizer no outro que ela tinha razão.

                         – Eu acho... eu acho – disse Edmundo, mas não lhe saiu mais nada da
                  boca.

                         –  Não  acha  nada  –  disse  Pedro.  –  É  maldade  sua.  Você  sempre
                  gostou de portar-se como um cavalo com os mais novos: no colégio você já
                  era impossível.

                         –  Vamos  parar  com  isso  – disse  Susana. –  Não  resolve  nada ficar
                  discutindo. Vamos procurar a Lúcia.
                         Estava na cara que Lúcia andara chorando. Nada conseguia consolá-
                  la. Estava absolutamente convencida da verdade da história:

                         –  Não  me  interessa o que vocês  pensam,  nem  o que vocês  dizem.
                  Podem contar tudo ao professor ou escrever para a mamãe. Façam o que
                  quiserem. Tenho a certeza de que encontrei um fauno, e de via ter ficado lá
                  para sempre, porque vocês são uns bestas...

                         Não foi uma noite nada agradável: Lúcia infeliz; Edmundo sentindo
                  que o seu plano não estava saindo tão bem quanto imaginara. Os dois mais
                  velhos começavam a convencer-se de que Lúcia não estava em seu perfeito
                  juízo. Depois que a irmã foi dormir, ficaram os dois durante muito tempo
                  no corredor, falando em segredo sobre o caso.

                         Na manhã seguinte, resolveram contar tudo ao professor.

                         – Depois escreveremos a papai, se o professor achar que Lúcia não
                  está boa da cabeça; não podemos fazer mais do que isso.
                         – Entrem – disse o professor, ao ouvir as pancadas na porta.

                         Ofereceu-lhes cadeiras e disse que estava às ordens. Escutou-os com
                  toda a atenção, dedos cruzados, sem interrompê-los até o fim da história.
                  Ficou calado durante muito tempo. Tossiu para limpar a garganta. E disse a
                  coisa que eles menos podiam esperar:

                         – E quem disse que a história não é verdadeira?

                         – Oh, mas acontece... – começou Susana; e parou por aí. Via-se pela
                  cara do velho que ele estava mesmo falando sério. Susana tomou coragem e
                  disse:
                         – Mas Edmundo confessou que eles estavam fingindo.

                         –  Ora,  aí  está  uma  coisa  –  tornou  o  professor  –  que  precisa  ser
                  considerada: e com muitíssima atenção. Por exemplo, se me desculpam a
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