Page 120 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 120

–  Porque,  se  voltar  aqui  e  trouxer  seus  irmãos,  vou  dar-lhe  mais
                  manjar  turco.  Agora  é  impossível,  porque  o  poder  mágico  só  tem  efeito
                  uma vez. Se fosse em minha casa, seria diferente.

                         – E por que não vamos logo para a sua casa?

                         A princípio, quando subiu no trenó, ficou apavorado com a idéia de
                  que  ela  o  levasse  para  algum  lugar  desconhecido,  de  onde  não  pudesse
                  voltar nunca mais; agora já nem se lembrava disso.

                         – Minha casa? Ah, é um lugar maravilhoso! Você iria gostar muito
                  de lá, tenho certeza. Há salas e salas cheias de manjar turco. E, imagine só,
                  eu  não  tenho  filhos!  Quem  me  dera  ter  um  menino  para  educar  como
                  príncipe, e que fosse, depois da minha morte, rei de Nárnia. Enquanto fosse
                  príncipe,  havia  de  usar  uma  coroa  de  ouro  e  comer  manjar  turco  o  dia
                  inteirinho. Nunca vi um menino tão inteligente e bonito como você. Sou
                  capaz  de  fazê-lo  príncipe,  um  dia,  quando  conseguir  que  os  outros  me
                  façam uma visita.
                         – E por que não pode ser agora? – perguntou Edmundo.

                         Estava muito corado, com a boca e os dedos melados, e (fosse qual
                  fosse a opinião da rainha) não parecia nem bonito, nem inteligente.

                         –  Ora,  se  eu  o  levasse  agora,  nunca  mais  você  veria  seus  irmãos.
                  Tenho grande vontade de conhecer todos. Porque você vai ser príncipe e,
                  mais tarde, rei. Já está resolvido. Mas vou precisar também de nobres. Seu
                  irmão será duque, e suas irmãs, duquesas.

                         –  Mas  eles  não  têm  nada  de  mais!  –  exclamou  Edmundo.  –  De
                  qualquer maneira, eu poderia buscá-los mais tarde.

                         –  É.  Mas,  depois  de  entrar  em  minha  casa,  poderia  esquecê-los.
                  Gostaria tanto, que não mais se lembraria de buscá-los. Agora, escute: vá
                  para a sua terra e volte outro dia; mas com eles, entendeu? Sem eles, não
                  precisa aparecer mais.
                         – Mas eu nem sei como voltar!

                         – É muito fácil. Está vendo aquela luz?

                         Ela apontou com a varinha, e Edmundo viu o lampião junto ao qual
                  Lúcia havia encontrado o fauno.

                         – É por ali, em linha reta, o caminho do mundo dos homens. Olhe
                  agora para o outro lado – e apontou na direção oposta – e me diga: está
                  vendo aquelas duas colinas lá longe?
                         – Acho que estou.

                         – Pois a minha casa fica entre aquelas duas colinas. Quando voltar
                  aqui e achar o lampião, olhe para as colinas e vá andando pelo bosque, até
   115   116   117   118   119   120   121   122   123   124   125