Page 118 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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MANJAR TURCO
– Mas o que é você? – tornou a rainha. – Por acaso um anão que cresceu
demais e resolveu cortar a barba?
– Não, Majestade; eu nunca tive barba, sou ainda um menino.
– Um menino! Quer dizer, um Filho de Adão?
Edmundo ficou parado, sem dizer nada. Já se sentia todo confuso.
– Seja lá o que for, acho que se trata também de um débil mental.
Responda logo, se não quer que eu perca a paciência. Você é humano?
– Sou, sim, Real Senhora.
– E como conseguiu entrar nos meus domínios?
Quero saber!
– Por um guarda-roupa, Majestade.
– Por um guarda-roupa? Que história é essa?
– Abri a porta e de repente estava aqui.
– Ah! – disse a rainha, falando mais para si própria do que para ele. –
Uma porta! Uma porta no mundo dos homens! Já ouvi falar de coisas
parecidas. Pode ser o princípio do fim. Mas ele é um só, e resolverei isso
com facilidade.
Levantou-se e fitou Edmundo com olhos afogueados; no mesmo
instante, ergueu a varinha. Edmundo sentiu que ela ia fazer qualquer coisa
de terrível, mas não foi capaz de dar um passo. Já se considerava perdido,
quando ela pareceu mudar de opinião.
– Meu menininho – disse ela, com uma voz muito diferente. – Está
gelado! Sente-se aqui no trenó, perto de mim; cubra-se com a minha manta.
Vamos conversar um pouco.
Edmundo não gostou muito do convite, mas não teve coragem de
desobedecer. Pulou para o trenó, sentando-se aos pés da rainha, que
colocou uma dobra da manta em torno dele.
– Que tal uma bebidinha quente? Seria bom, não seria?
– Seria, Majestade – respondeu Edmundo, batendo o queixo.