Page 115 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Olharam  todos,  depois  de  afastarem  os  casacos,  e  viram  –  Lúcia
                  também – um guarda-roupa muito comum. Não havia bosque, nem neve,
                  apenas o interior de um guarda-roupa, com os cabides pendurados. Pedro
                  entrou e bateu com os dedos, certificando-se da solidez da peça.

                         – Boa brincadeira, Lúcia – disse ao sair. – Você nos pregou uma boa
                  peça. Quase acreditamos.

                         –  Mas  não  é  mentira  coisa  nenhuma!  Palavra  de  honra!  Há  um
                  minuto estava tudo diferente. Palavra que estava!

                         – Vamos, Lu – disse Pedro. – Você está exagerando; já se divertiu
                  muito. É melhor acabar com a brincadeira.
                         Lúcia ficou vermelha até a raiz dos cabelos. Quis murmurar qualquer
                  coisa e desandou a chorar.

                         Durante alguns dias, sentiu-se muito infeliz. Podia resolver a questão
                  num instante, bastando declarar que tinha inventado aquela história. Mas
                  Lúcia  gostava  de  falar  a  verdade,  e  tinha  certeza  de  que  não  estava
                  enganada.  Os  outros,  pensando  que  era  tudo  mentira,  e  mentira  boba,
                  davam-lhe  um  grande  desgosto.  Os  dois  mais  velhos  faziam  isso  sem
                  querer,  mas  Edmundo  costumava  bancar  o  mau,  e  estava  sendo  mau
                  daquela vez. Zombava de Lúcia, chateando-a o tempo todo, perguntando se
                  ela não tinha achado outras terras misteriosas nos numerosos armários que
                  existiam por toda a casa.

                         O  pior  é  que  esses  dias  eram  para  ter  sido  esplêndidos.  O  tempo
                  estava lindo, passeavam lá fora da manhã até a noite, tomavam banho de
                  riacho, pescavam, subiam nas árvores, deitavam-se no bosque... Mas Lúcia
                  não  se  divertia  de  verdade.  E  assim  foram  correndo  as  coisas  até  que
                  chegou um novo dia de chuva.

                         Naquela tarde, como o tempo continuasse ruim, resolveram brincar
                  de esconder. Susana era o pegador e, mal se dispersaram para se esconder,
                  Lúcia dirigiu-se à sala do guarda-roupa. Não queria esconder-se lá dentro,
                  pois  isso  certamente  faria  com  que  os  outros  voltassem  a  se  lembrar
                  daquele  assunto  desagradável.  Mas  queria  pelo  menos  dar  uma  espiada,
                  porque, naquela altura, ela própria já começava a se perguntar se Nárnia e o
                  fauno não passavam de um sonho. A casa era tão grande e complicada, tão
                  cheia de esconderijos, que ela pensou que teria tempo de dar uma espiada e
                  se esconder em outro lugar. Mas, mal tinha se aproximado, ouviu passos no
                  corredor, e não teve outro remédio: pulou para dentro do guarda-roupa e
                  segurou a porta, pois sabia muito bem que era uma idiotice alguém fechar-
                  se num guarda-roupa, mesmo num guarda-roupa mágico. Eram os passos
                  de Edmundo, que entrou na sala ainda a tempo de ver Lúcia sumir dentro
                  do  móvel.  Sem  hesitar,  resolveu  entrar  também  –  não  porque  o
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