Page 125 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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pergunta: qual deles, pela experiência de vocês, é mais digno de crédito, o
                  irmão ou a irmã? Isto é, quem fala sempre a verdade?

                         – Isto é que é gozado, professor – respondeu Pedro. – Até agora, eu
                  só posso dizer que é a Lúcia.

                         – E que acha você, minha querida Susana?

                         – Bem, em casos comuns, penso igual ao Pedro, mas aquela história
                  do bosque e do fauno não pode ser verdade.
                         –  É  o  que  a  gente  nunca  sabe  –  disse  o  professor.  –  Não  se  deve
                  acusar de mentirosa uma pessoa que sempre falou a verdade; é mesmo uma
                  coisa séria, muito séria.

                         –  Mas  o  nosso  medo  não  é  que  ela  esteja  mentindo  –  replicou
                  Susana. – Chegamos a pensar se ela não está doente da cabeça...

                         – Acham que ela está louca? – perguntou, calmamente, o professor. –
                  Podem ficar descansados: basta olhar para ela, ouvi-la um instante para ver
                  que não está louca.

                         – Mas, então... – disse Susana, e calou-se. Nunca tinha pensado que
                  uma pessoa grande falasse como o professor, e não sabia bem o que havia
                  de pensar de tudo aquilo.

                         – Lógica! – disse o professor para si mesmo. – Por que não ensinam
                  mais lógica nas escolas? – E dirigindo-se aos meninos declarou: – Só há
                  três possibilidades: ou Lúcia está mentindo; ou está louca; ou está falando a
                  verdade. Ora, vocês sabem que ela não costuma mentir, e é evidente que
                  não está louca. Por isso, enquanto não houver provas em contrário, temos
                  de admitir que está falando a verdade.
                         Susana olhou para ele muito séria: o professor não estava brincando.

                         – Mas como é que pode ser verdade, professor?

                         – E por que você duvida?

                         – Bem – disse Pedro –, então, se é verdade, por que não encontramos
                  sempre o tal país fantástico ao abrir a porta do guarda-roupa? Não havia
                  nada lá quando olhamos; nem Lúcia teve coragem de fingir que havia.
                          – E isso prova o quê? – perguntou o professor.

                         – Ora, ora, se as coisas são verdadeiras, estão sempre onde devem
                  estar.

                         – Tem certeza, Pedro?

                         Ele não foi capaz de responder.
                         – Mas ela não teve tempo! – disse Susana. – Mesmo que esse país
                  existisse, Lúcia não teve tempo de ir lá. Veio correndo atrás de nós, logo
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