Page 126 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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que saímos da sala. Demorou menos de um minuto, e ela diz que passou
                  horas lá.

                         – Pois é exatamente isso que me faz acreditar na história – disse o
                  professor. – Se, de fato, existe nesta casa uma porta aberta para um outro
                  mundo (e devo dizer que esta casa é  muito estranha, e eu mesmo  mal a
                  conheço),  e  se  Lúcia  conseguiu  chegar  a  esse  mundo,  não  ficaria  nada
                  admirado se ela houvesse encontrado lá um tempo diferente; assim, podia
                  muito bem acontecer que, embora ela ficasse muito tempo lá, a gente não
                  percebesse isso no tempo do nosso mundo. Lúcia, na idade dela, não deve
                  saber  disso.  Logo,  se  estivesse  fingindo,  deveria  ficar  escondida  durante
                  mais tempo, para depois contar a mentira.

                         –  Mas,  professor,  acha  mesmo  que  pode  existir  outro  mundo,  em
                  qualquer lugar, tão pertinho?

                         Será possível?
                         – É muito possível – disse o professor, tirando os óculos para limpá-
                  los.  –  Eu  gostaria  de  saber  o  que  estas  crianças  aprendem  na  escola!  –
                  murmurou para si mesmo.

                         – Mas o que devemos fazer no momento? – perguntou Susana, que
                  sentia a conversa sair dos eixos.

                         – Minha querida Susana – disse o professor, fitando ambos com um
                  olhar  penetrante  –,  há  um  plano  ainda  não  sugerido  por  ninguém,  e  que
                  talvez valha a pena experimentar.

                         – Qual?

                         – Cada um trate de sua própria vida.
                         E  assim  terminou  a  conversa.  Daí  por  diante,  Lúcia  sentiu  que  o
                  ambiente melhorava. Pedro via-se na obrigação de impedir as zombarias de
                  Edmundo. E ninguém tinha vontade de tocar no assunto do guarda-roupa.

                         Durante algum tempo foi como se as aventuras tivessem chegado a
                  um fim. Mas não foi o que aconteceu.

                         A casa do professor – da qual ele mesmo tão pouco sabia – era tão
                  antiga e famosa que vinha gente de toda parte para visitá-la. Era dessas que
                  estão  indicadas  nos  guias  turísticos  e  até  nos  livros  de  História.  E  havia
                  motivo  para  isso,  pois  corriam  sobre  ela  muitas  lendas,  algumas  mais
                  estranhas do que o caso que estou contando. Quando apareciam turistas, o
                  professor dava licença para verem a casa, e D. Marta, a governanta, servia-
                  lhes de guia, contando o que sabia dos quadros, das armaduras e dos livros
                  raros da biblioteca. A governanta não gostava de crianças, e não admitia
                  que a interrompessem enquanto falava como um papagaio aos visitantes.
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