Page 191 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Assim viveram em grande alegria. Só lembravam a vida neste mundo
                  de cá como quem se lembra de um sonho.

                         Um  certo  ano,  Tumnus,  já  agora  um  fauno  de  meia-idade,  trouxe
                  notícias  de  que  o  Veado  Branco  voltara  a  aparecer.  O  Veado  Branco,
                  quando apanhado, trazia consigo a satisfação de todos os desejos.

                         Os  dois  reis  e  as  duas  rainhas,  acompanhados  dos  principais
                  membros  da  corte,  partiram  à  caça  do  Veado  Branco  nos  Bosques  do
                  Ocidente,  conduzindo  cães  e  fazendo  soar  as  trompas.  Não  tinham
                  cavalgado  muito  quando  o  avistaram.  Correram  em  sua  perseguição  por
                  montes e vales, por bosques e planícies, até deixarem para trás, cansados,
                  os cavalos dos cortesãos. Só eles quatro continuaram a persegui-lo. Viram
                  o  veado  desaparecer  numa  capoeira  tão  cerrada  que  os  cavalos  não
                  conseguiram entrar. Então o rei Pedro disse (sendo reis e rainhas há tantos
                  anos, usavam agora um estilo muito diferente):

                         – Leais consortes, desmontemos, deixando aqui os nossos corcéis, e
                  sigamos  o  veado  pela  floresta;  pois  nunca  meus  olhos  viram  tão  nobre
                  animal.
                         – Senhor – disseram os outros –, façamos com soante o vosso desejo.

                         Prenderam  os  cavalos  às  árvores  e  penetraram  a  pé  na  floresta
                  cerrada. E mal tinham entrado, quando Susana disse:

                         – Gentis amigos, eis que vejo uma grande maravilha; parece-me uma
                  árvore de ferro.

                         – Senhora – replicou Edmundo –, se olhardes bem, vereis que é um
                  pilar de ferro, com uma lanterna em cima.

                         – Pela Juba do Leão! – exclamou Pedro. – Que idéia é essa, de afixar
                  uma lanterna num local em que as árvores crescem tão juntas e tão alto,
                  que, mesmo acesa, não daria luz a ninguém!
                         – Senhor – disse Lúcia –, é provável que, quando este poste e esta
                  lâmpada  aqui  foram  colocados,  talvez  fossem  as  árvores  pequenas,  ou
                  poucas, ou nem árvores existissem. Porque este bosque é jovem e o poste é
                  velho. – E ficaram todos olhando para ele. Disse Edmundo:

                         – Não sei bem o que é, mas aquela lâmpada

                         faz-me sentir um não sei quê. Não me sai do pensamento que já a vi
                  em outro tempo, como se fosse em um sonho, ou no sonho de um sonho...

                         – Senhor – responderam todos –, o mesmo acontece a nós.
                         – E a mim me parece – acrescentou Lúcia – que se passarmos para

                  além do poste e da lanterna, encontraremos estranhas aventuras, ou então
                  haverá grandes transformações em nossas existências.
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