Page 192 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Senhora – disse Edmundo –, o mesmo pressentimento me agita o
                  âmago.

                         – Também a mim, meu excelso irmão – disse Pedro.

                         –  E  a  mim  –  declarou  Susana.  –  Por  isso,  sou  de  opinião  que
                  voltemos  sem  demora  ao  sítio  onde  deixamos  os  cavalos  e  deixemos  de
                  perseguir o inatingível Veado Branco.

                         – Senhora – disse Pedro –, perdoai, se vos contradigo. Porque, desde
                  que somos reis e rainhas de Nárnia, jamais encetamos uma alta empresa
                  (batalhas,  demandas,  feitos  de  armas  e  atos  de  justiça)  para  depois
                  desistirmos. Sempre levamos a bom termo tudo quanto iniciamos.
                         – Minha irmã – disse Lúcia –, o nosso real irmão tem razão. Grande
                  vexame  seria  para  nós  se,  por  qualquer  terror  ou  pressentimento,
                  deixássemos de perseguir tão nobre animal, como o que nos propusemos
                  caçar.

                         –  Faço  minhas  as  vossas  palavras  –  declarou  Edmundo.  –  E  tão
                  grande é o meu desejo de descobrir o sentido daquele objeto, que nem pela
                  jóia mais rica que possa existir em Nárnia, nem por todas as suas ilhas, eu
                  voltaria atrás, por meu querer.

                         – Então, em nome de Aslam – disse Susana –, se o desejo de todos
                  vós é esse, continuemos em busca da aventura que nos aguarda.

                         Assim, reis e rainhas entraram no bosque, e ainda não tinham dado
                  meia dúzia de passos quando notaram que o objeto visto era um lampião. E
                  pouco  mais  tinham  andado  quando  perceberam  que  não  seguiam  entre
                  ramagens,  mas  entre  casacos  de  peles.  E  daí  a  um  pouquinho  saltavam
                  todos da porta do guarda-roupa para a sala vazia. Já não eram reis e rainhas
                  em traje de montaria, mas simplesmente Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia,
                  nas suas roupas antigas. E era o dia e a hora em que todos tinham entrado
                  no  guarda-roupa  para  se  esconderem.  D.  Marta  e  os  visitantes  falavam
                  ainda no corredor, mas, felizmente, nunca chegaram a entrar na sala vazia,
                  e as crianças não foram apanhadas.

                         E  este  seria  o  fim  da  história  se  as  crianças  não  se  sentissem  na
                  obrigação  de  explicar  ao  professor  por  que  quatro  casacos  tinham
                  desaparecido do guarda-roupa. E o professor (um sujeito de fato fora do
                  comum) não lhes disse que deixassem de ser bobos ou de inventar histórias.
                  Acreditou.
                         – Não! – disse ele. – Realmente. Não creio que valha a pena entrar
                  pelo guarda-roupa para procurar os casacos. Por esse caminho, nunca mais
                  irão a Nárnia. Nem os casacos serviriam para muita coisa agora. Hein? Que
                  tem isso? É claro que um dia vocês voltarão a Nárnia. Quem é coroado rei
                  em Nárnia, será sempre rei em Nárnia. Mas não tentem seguir o mesmo
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