Page 189 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Edmundo,  quando  Lúcia  pôde  voltar  até  ele,  estava  de  pé,  não  só
                  curado dos ferimentos, mas com uma aparência bem melhor do que antes.
                  Com  uma  aparência  melhor  até  do  que  no  tempo  em  que  entrou  para  a
                  escola e começou a seguir pelo mau caminho. Agora, não. Já podia olhar as
                  pessoas de frente. Por isso mesmo, foi armado cavaleiro, em pleno campo
                  de batalha.

                         –  Edmundo  sabe  o  que  Aslam  fez  por  ele?  –  perguntou  Lúcia
                  baixinho a Susana. – Sabe qual era, na verdade, o trato com a feiticeira?

                         – Boca fechada! Claro que não sabe de nada!

                         – Não é melhor contar para ele?
                         – É evidente que não! – respondeu Susana. – Imagine como você iria
                  se sentir se estivesse no lugar dele.

                         – Mesmo assim, acho que ele deve saber – insistiu Lúcia.

                         Mas foram interrompidas e a conversa ficou por aí.

                         Passaram  a  noite  ali  mesmo.  Não  sei  dizer  onde  Aslam  arranjou
                  comida para aquela gente toda. O fato é que às oito horas estavam todos
                  sentados na relva, para uma excelente refeição.

                         No dia seguinte, desceram ao longo do grande rio, chegando à foz ao
                  cair  da  tarde.  O  castelo  de  Cair  Paravel  erguia-se,  altaneiro,  no  cimo  da
                  colina. Em frente, havia areia e pedras, pequenas poças de água salgada,
                  algas,  cheiro  de  mar  e  ondas  azuis  e  verdes  a  perder  de  vista.  E,  ia-me
                  esquecendo, o grito das gaivotas!
                         À  noite,  depois  do  lanche,  as  quatro  crianças  voltaram  à  praia  e
                  tiraram os sapatos e as meias para molhar os pés.

                         No  dia  seguinte, porém,  a  coisa  foi  muito  mais  solene.  No  grande
                  salão  de  Cair  Paravel  –  um  salão  formidável,  com  teto  de  marfim,  uma
                  parede  coberta  de  penas  de  pavão  e  uma  porta  aberta  para  o  mar  –,  na
                  presença  de  todos,  Aslam  coroou-os  com  toda  a  cerimônia.  E  eles
                  sentaram-se  nos  tronos,  entre  aclamações  ensurdecedoras  de  “Viva  o  rei
                  Pedro! Viva a rainha Susana! Viva o rei Edmundo! Viva a rainha Lúcia!”

                         – Quem é coroado rei ou rainha em Nárnia será para sempre rei ou
                  rainha.  Honrem  a  sua  realeza,  Filhos  de  Adão!  Honrem  a  sua  realeza,
                  Filhas de Eva! – disse Aslam.

                         Pela porta aberta para o  mar, chegavam  as vozes dos tritões e das
                  sereias, que entoavam cânticos em louvor dos novos soberanos, nadando
                  perto da praia.

                         Assim, as crianças ocuparam seus tronos, empunharam seus cetros e
                  concederam recompensas e honrarias a todos os amigos: a Tumnus, ao Sr. e
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