Page 297 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Em  Anvar  todo  mundo  estava  contente  por  ocasião  de  um  grande
                  acontecimento: uma festa na esplanada do castelo, com dezenas de lanter-
                  nas  juntando-se  à  luz  do  luar.  O  vinho  jorrava,  contavam-se  histórias,
                  faziam-se gracejos;  então fez-se silêncio, e  o  poeta do  rei,  acompanhado
                  por dois tocadores de rabeca, foi para o centro do picadeiro. Aravis e Cor
                  prepararam-se para uma chatice, pois só conheciam a poesia dos calorma-
                  nos, e agora você já sabe de que tipo ela é. Mas, ao primeiro trinado das
                  rabecas, foi como se um foguete lhes passasse pela cabeça. O poeta cantou
                  a grande balada do Belo Olvin e como, vencendo o gigante Piro, conseguiu
                  transformá-lo em pedra (daí a origem do Monte Piro, pois se tratava de um
                  gigante de duas cabeças), para casar-se com a dama Liln. Quando acabou,
                  desejavam que a balada recomeçasse.

                        Não  sabendo  cantar,  Bri  contou  a  história  da  Batalha  de  Zalindreh.
                  Lúcia contou mais uma vez (só Aravis e Cor não a conheciam) a história
                  d’O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, na qual se narra como Edmundo,
                  Susana, Pedro e ela chegaram a Nárnia.

                        Depois chegou o momento em que o rei Luna disse que as crianças
                  deviam ir para a cama, devido ao adiantado da hora. E acrescentou ainda:

                        - Amanhã, Cor, você percorrerá comigo todo o palácio, examinando
                  os seus pontos fortes e fracos, pois a você caberá guardá-lo quando eu me
                  for.
                        - Mas Corin é que será o rei, pai - protestou Cor.

                        - Nada disso, rapaz - replicou o rei Luna. - Você será o meu herdeiro.
                  Cabe a você a coroa.

                        - Mas não quero a coroa - disse Cor. - Prefiro muito mais...

                        - Não interessa, Cor, o que você prefere. É a lei.

                        - Mas,       se      somos        gêmeos,        somos         da      mesma
                  idade!
                        - Nada disso - respondeu o rei, rindo-se. - Um tem de vir primeiro.
                  Você é mais velho do que Corin vinte minutos. E mais ajuizado também,
                  espero. - Olhou para Corin, piscando.

                        - Mas, pai, o senhor não pode escolher quem quiser para rei?

                        - Não. O rei obedece às leis, pois as leis o fizeram rei.

                        - Puxa vida! - disse Cor. - Não quero a coroa de jeito nenhum. Olhe
                  aqui, Corin... a culpa não é minha. Nunca pensei que acabaria passando a
                  perna no seu reinado.

                        - Viva! Salve! - gritou Corin. - Não tenho de ser rei! Não tenho de ser
                  rei! Vou ser príncipe a vida toda. Os príncipes é que se divertem!
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