Page 293 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Naquele momento a rainha Lúcia saiu do castelo e aproximou-se do
                  grupo. Disse o rei Luna a Aravis:

                        - Minha  querida,  apresento-lhe  uma  boa  amiga  de  nossa  casa,  e  ela
                  própria  estava  providenciando  para  que  os  aposentos  fossem
                  condignamente preparados.

                        - Quer  vê-los?  -  perguntou  Lúcia,  dando  um  beijo  em  Aravis.  Foi
                  amizade à primeira vista; e se foram, conversando sobre quartos e roupas,
                  coisas sobre as quais as moças trocam idéias nessas ocasiões.

                        Depois do almoço no terraço (aves frias, pastelão frio, vinho, pão e
                  queijo), o rei Luna franziu a sobrancelha, suspirando:
                        -  Chii!  Ainda  temos  em  nossas  mãos  aquele  lamentável  Rabadash;
                  temos de decidir o que fazer com ele.

                        Lúcia  estava  sentada  à  direita  do  rei  e  Aravis  à  esquerda.  O  rei
                  Edmundo  numa  cabeceira  e  o  lorde  Darin  na  outra.  Dar,  Peridan,  Cor  e
                  Corin estavam no mesmo lado que o rei.

                        - Vossa  Majestade  tem  todo  o  direito  de  decepar-  lhe  a  cabeça  -
                  opinou  Peridan.  -  Um  assalto  como  este  colocou  Rabadash  no  nível  dos
                  assassinos.

                        - Pura verdade - disse Edmundo. - Mas até um traidor pode corrigir-se.
                  Conheço um. - E assumiu um ar pensativo.

                        - Matar  esse  Rabadash  é  quase  o  mesmo  que  fazer  guerra  com  o
                  Tisroc - falou Darin.
                        - Às  favas  com  o  Tisroc!  -  disse  o  rei  Luna.  -  Sua  força  está  nos
                  números, e números não atravessam o deserto. O que não tenho é estômago
                  para matar homens (mesmo traidores) a sangue- frio. Cortar o pescoço dele
                  em combate teria sido um prazer. Mas a coisa agora é diferente.

                        - A meu ver - interveio Lúcia -, Vossa Majestade deveria conceder a
                  ele uma outra chance. Deixe-o partir livremente, sob a promessa rigorosa
                  de agir com decência no futuro. Pode ser que cumpra a palavra.

                        - Talvez os macacos acabem honrados - disse Edmundo. - Mas, pelo
                  Leão,  se  ele  quebrar  a  promessa,  que  lhe  cortemos  logo  a  cabeça  em
                  combate limpo.

                        - Vamos tentar - disse o rei, virando-se para um serviçal: - Traga o
                  prisioneiro.
                        Rabadash foi trazido preso a suas correntes. Quem o visse era capaz
                  de  imaginar  que  passara  a  noite  em  horrível  calabouço,  sem  água  nem

                  comida. Na verdade, ele estivera encerrado num quarto bem confortável, e
                  fora servido com uma ceia excelente. Mas, muito azedo para tocar na ceia,
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