Page 288 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Estranhamente, não sentiram a menor vontade de conversar sobre ele;
                  cada um saiu por um lado, caminhando para cá e para lá na relva quieta,
                  falando consigo mesmo.

                        Uma hora depois os cavalos estavam comendo alguma coisa boa que o
                  eremita  lhes  preparara.  Aravis,  ainda  caminhando,  pensativa,  foi
                  surpreendida por um som agudo de trompa do lado de fora.

                        - Quem é?

                        - Sua Alteza, o príncipe Cor, da Arquelândia - respondeu uma voz.
                        Aravis  abriu  o  portão,  cedendo  passagem  aos  estrangeiros.  Dois
                  soldados entraram em primeiro lugar, postando-se com alabardas nos dois
                  cantos. Entraram em seguida um arauto e o trompetista.

                        -  Sua  Alteza  Real,  o  príncipe  Cor  da  Arquelândia,  solicita  uma
                  audiência com a dama Aravis - disse o arauto. E aí fizeram reverência ao
                  príncipe que entrava. Toda a comitiva retirou-se, fechando o portão.

                        O príncipe fez uma reverência, bastante desajeitada para um príncipe.
                  Aravis  respondeu  à  maneira  dos  calormanos  e  o  fez  com  capricho,  pois
                  aprendera isso na escola. Só então reparou no príncipe.

                        Um  simples  rapazinho.  Sem  chapéu,  tinha  os  cabelos  louros
                  envolvidos num aro de ouro. Sua primeira túnica era de finíssima cambraia,
                  e  a  de  baixo  era  de  um  vermelho-reluzente.  Trazia  a  mão  esquerda
                  enfaixada.

                        Aravis olhou duas vezes antes de falar, espantada:
                        - Não é possível! É Shasta!

                        Shasta ficou logo muito vermelho e começou a falar rapidamente:

                        - Olhe aqui, Aravis, espero que não pense que essa coisa toda foi feita
                  para impressioná-la; ou que fiquei diferente ou besta a esse ponto. Queria
                  vir com minhas roupas de sempre, mas botaram fogo nelas e meu pai me
                  disse...

                        - Seu pai? - estranhou Aravis.
                        - Pelo jeito, o rei Luna é meu pai. Dava para pensar... Corin é a minha
                  cara. Somos gêmeos, entende? E meu nome não é Shasta, é Cor.

                        - Cor é um nome mais bonito do que Shasta - disse Aravis.

                        - Nomes  de  irmãos  são  sempre  assim  na  Arquelândia.  Como  Dar  e
                  Darin.

                        - Shasta... quero dizer Cor - falou Aravis. - Quero lhe dizer uma coisa,
                  e tem de ser agora. Desculpe por ter sido pedante. Mas pode acreditar que
                  fiquei arrependida antes de saber que você era um príncipe. Honestamente!
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