Page 289 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 289

Foi quando você enfrentou o Leão.

                        - Aquele Leão não tinha a intenção de matá-la - disse Cor.

                        - Já sei disso.

                        Por um  momento os dois ficaram calados e sérios, certos de que já
                  sabiam tudo sobre Aslam. Aravis lembrou-se da mão enfaixada do amigo:
                        - Você participou de uma batalha? Isso aí é um ferimento de guerra?

                        - Só um arranhão - respondeu Cor, usando pela primeira vez um certo
                  tom senhorial. Mas daí a pouco caiu na risada: - Se quer mesmo saber a
                  verdade não é um ferimento de guerra coisa nenhuma; tive um pouco de
                  pele arrancada; isso acontece a qualquer um, mesmo que não chegue perto
                  de uma batalha.

                        - De qualquer forma você entrou na batalha. Deve ter sido formidável.

                        - Não é o que você pensa - replicou Cor.
                        - Mas Sha... Cor, você ainda não me disse nada sobre o rei Luna, e
                  como ele descobriu quem você é.

                        - Melhor  a  gente  sentar-se  -  disse  Cor.  -  É  uma  história  meio
                  comprida. Para começo de conversa: papai é um ótimo sujeito. Mesmo que
                  não fosse o rei. Mesmo que eu tenha de passar agora por essa coisa horrível
                  que se chama educação, foi muito bom ter encontrado meu pai. Vamos à
                  história. Corin e eu somos gêmeos. Uma semana depois de nascermos, nós
                  dois  fomos  levados  a  um  sábio  centauro  de  Nárnia,  para  receber  uma
                  bênção ou coisa parecida. O tal centauro era um profeta muito bom, como
                  muitos outros centauros. Você talvez ainda não tenha visto um centauro.
                  Havia  alguns  na  batalha  de  ontem.  Gente  fabulosa,  mas  ainda  não  me
                  acostumei de todo com eles. Aravis, pode estar certa de uma coisa: a gente
                  ainda vai ter que se acostumar com uma porção de coisas nestas terras do
                  Norte.

                        - É, sem dúvida. Mas conte a história.

                        -  Bem,  logo  que  chegamos,  o  tal  centauro  olhou  para  mim  e  disse:
                  “Um  dia  chegará  em  que  este  menino  salvará  a  Arquelândia  do  maior
                  perigo  que  ela  já  enfrentou.”  Minha  mãe  e  meu  pai  ficaram  muito
                  contentes.  Mas  havia  alguém  presente  que  não  gostou.  Era  um  sujeito
                  chamado lorde Bar, que foi chanceler do meu pai. Ao que parece, ele tinha
                  feito  alguma  coisa  errada...  peculato  ou  uma  palavra  parecida...  Não
                  entendi muito bem esta parte da história... Papai teve de demitir o tal lorde.
                  Mas não fez mais nada contra ele, e o sujeito continuou vivendo por lá.
                  Mais tarde ficaram sabendo que ele recebia dinheiro do Tisroc e já tinha
                  fornecido uma porção de informações secretas para Tashbaan. Sabendo que
                  eu ia salvar o país de um grande perigo, resolveu me tirar do caminho. Fui
   284   285   286   287   288   289   290   291   292   293   294