Page 287 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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se; o muro era alto demais, e ele não tinha por onde fugir. Aravis e Huin
correram atrás. Houve um segundo de intenso silêncio.
Huin, embora tremesse da cabeça aos pés, deu um relincho esquisito, e
foi para perto do leão:
- Por favor, você é tão bonito. Pode me comer, se quiser. Melhor ser
devorada por você do que por um outro qualquer.
- Filha querida - respondeu Aslam, beijando-lhe o focinho aveludado -
, sabia que você bem cedo chegaria até mim. Que a alegria a ilumine.
Ergueu a cabeça e falou mais alto:
- Bri, meu pobre, meu orgulhoso e assustado cavalo, chegue perto de
mim. Mais perto, filho. Não ouse não ousar. Toque-me. Aqui estão as
minhas patas, aqui está a minha cauda, aqui estão as minhas suíças. Sou um
verdadeiro animal.
- Aslam - disse Bri, com a voz estremecida -, acho que sou um
estúpido.
- Feliz o cavalo que sabe disso ainda na juventude. Ou o humano.
Chegue mais perto, Aravis,
minha filha. Veja! Minhas patas são de veludo. Não precisa temer
agora.
- Agora, senhor? - disse Aravis.
- Agora! Sou o único Leão que você encontrou
em todos os seus caminhos. Sabe por que a feri?
- Não, senhor.
- As arranhaduras nas suas costas, uma por uma, dor por dor, sangue
por sangue, são iguais aos lanhos feitos nas costas da escrava de sua
madrasta, em razão da droga que a fez dormir. Você precisava saber o que
é isso.
- Senhor...
- Pode falar, minha filha.
- Ela ainda pode ser punida por minha causa?
- Criança, estou lhe contando a sua história, não a dela. A ninguém
será contada a história do outro. - Sacudiu a cabeça e falou ainda mais alto:
- Divirtam-se, meus pequeninos. Breve nos encontraremos outra vez.
Mas antes disso receberão uma visita.
De um salto pulou por cima do muro e desapareceu.