Page 303 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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São assim dois almoços para quatro. Não é lá grande coisa.

                         – Neste momento – disse Lúcia – , quero mais beber água do que
                  comer.

                         Todos estavam com sede, como é natural acontecer quando se brinca
                  na água salgada, sob o sol ardente.

                         –  É  como  se  a  gente  tivesse  sofrido  um  naufrágio  –  observou
                  Edmundo.  –  Nos  livros,  sempre  se  encontra  na  ilha  uma  fonte  de  água
                  fresca e cristalina. É melhor a gente procurá-la.
                         –  Vai  ser  preciso  voltar  para  aquela  mata  fechada?  –  perguntou
                  Susana.

                         – De jeito nenhum – disse Pedro. – Se há fontes aqui, elas têm de vir
                  para o mar; assim, se formos andando pela praia, deveremos achá-las.

                         Foram  caminhando,  primeiro  sobre  a  areia  úmida  e  mole,  depois
                  sobre  a areia  grossa que  se  agarra  aos dedos dos  pés.  Edmundo  e  Lúcia
                  queriam seguir descalços e deixar os sapatos ali, mas Susana advertiu-os de
                  que isso não seria bom:

                         –  Podemos  não  os  encontrar  depois,  e  talvez  precisemos  deles  se
                  ainda estivermos aqui ao anoitecer, quando começar a esfriar.

                         Então pararam e começaram a calçar as meias e os sapatos.
                         Depois de novamente calçados, iniciaram a caminhada ao longo da
                  praia, com o mar à esquerda e a mata à direita. Fora uma ou outra gaivota,
                  era um lugar de todo tranqüilo. A mata era tão densa e emaranhada que
                  quase não se podia olhar para dentro dela, e nada lá dentro dava sinal de
                  vida, nem um pássaro, nem sequer um inseto.

                         Conchas, algas e anêmonas, ou pequenos caranguejos nas poças das
                  rochas,  tudo  isso  é  muito  bonito;  mas,  quando  se  está  com  sede,  fica-se
                  logo cansado de tudo. Os quatro sentiam os pés pesados e quentes. Susana
                  e Lúcia tinham as capas de chuva para carregar. Edmundo, um momento
                  antes de ser apanhado pela magia, deixara o casaco num banco da estação;
                  assim, revezava-se com Pedro a levar o pesado sobretudo do irmão.

                         Daí a pouco a terra começou a encurvar-se para a direita. Cerca de
                  um quarto de hora mais tarde, depois de atravessarem uma crista pontuda, o
                  terreno  descrevia  uma  curva  bastante  fechada.  Estavam  de  costas  para  a
                  parte do mar que haviam encontrado ao saírem da mata. Olhando para a
                  frente, avistaram além da água outra região densamente arborizada.

                         – Será que é uma ilha? – perguntou Lúcia.

                         – Sei lá – disse Pedro. E continuaram em silêncio. O terreno em que
                  pisavam se aproximava cada vez mais do terreno oposto, e eles esperavam
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