Page 305 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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sementes, sei lá o que mais...
– Que tipo de raízes? – indagou Susana.
– Acho que raízes de árvores – disse Lúcia.
– Vamos embora – disse Pedro. Edmundo tem razão. Temos de
tentar qualquer coisa.
Começaram a andar ao longo do riacho. Não foi nada fácil. Quando
não eram obrigados a se abaixar sob os ramos, tinham de passar por cima
deles. Andaram aos trambolhões entre moitas de flores, rasgando as roupas,
molhando os pés no riacho. E, em torno, apenas um grande silêncio.
– Olhem! Olhem! – exclamou Lúcia. – Parece uma macieira.
E era. Subiram arquejantes pela encosta, abrindo caminho pelo mato,
e acabaram encontrando uma grande árvore carregada de maçãs douradas,
rijas, sumarentas. Não podia ser melhor.
– E esta árvore não é a única – disse Edmundo, de boca cheia. – Olhe
ali uma outra, outra lá...
– Há dezenas, não há dúvida – disse Susana, deitando fora a semente
da primeira maçã e tirando outra da árvore. – Isto aqui deve ter sido um
pomar, muito tempo atrás, antes que o mato crescesse.
– Houve então um tempo em que esta ilha foi habitada – disse Pedro.
– E o que é aquilo? – perguntou Lúcia, apontando para a frente.
– É um muro, um velho muro de pedra – disse Pedro.
Abrindo caminho entre os ramos carregados, alcançaram o muro. Era
muito antigo, arruinado aqui e ali, cheio de musgos e trepadeiras, mais alto
do que quase todas as árvores. Ao chegarem mais perto, encontraram um
grande arco, que deveria ter tido antes um portão, mas agora estava quase
totalmente ocupado pela mais frondosa de todas as macieiras. Tiveram de
quebrar alguns ramos para poder passar. Quando atravessaram, começaram
a piscar, pois a luz do dia se tornara de repente muito mais intensa.
Achavam-se num amplo espaço aberto, cercado de muros. Sem árvores: só
mato rasteiro, malmequeres, hera e paredes cinzentas. Mas o lugar era claro
e sereno, pairando ali uma certa melancolia. Os quatro dirigiram-se para o
centro dele, satisfeitos porque agora podiam esticar braços e pernas.