Page 307 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 307
banquetes. Podíamos fazer de conta que estamos de novo em Cair Paravel.
– Infelizmente sem banquete... – comentou Edmundo. – Está
anoitecendo. Vejam como as sombras estão compridas. E já repararam
como está frio?
– Se temos de passar a noite aqui, o melhor é fazer uma fogueira –
propôs Pedro. – Eu tenho fósforos. Vamos procurar lenha seca.
A proposta era sensata. Durante meia hora trabalharam a valer. O
pomar que tinham atravessado não era grande coisa para uma fogueira.
Experimentaram o outro lado do castelo. Passando por uma porta lateral,
encontraram-se num labirinto de corredores e velhas salas, que não
passavam agora de um emaranhado de espinheiros e rosas-bravas.
Descobriram uma brecha na muralha e, penetrando num maciço de árvores
mais antigas e frondosas, acharam muitos ramos caídos, madeira meio
apodrecida, lenha fina e folhas secas. Juntaram uma boa pilha de lenha
sobre o estrado. Junto à parede do lado de fora, acabaram descobrindo o
poço, todo coberto de ervas. Quando as afastaram, viram que a água corria
lá embaixo, fresca e cristalina. A volta do poço, de um dos lados, havia
vestígios de um pavimento de pedra. As meninas foram colher mais maçãs,
e os meninos acenderam o fogo sobre o estrado, bem no cantinho entre as
duas paredes, que lhes parecia o lugar mais quente e abrigado. Foi difícil
fazer pegar o fogo, mas por fim conseguiram. Sentaram-se os quatro de
costas para a parede, voltados para a fogueira. Tentaram assar maçãs
espetadas em pedaços de pau, mas maçãs assadas só são boas com açúcar.
– Além disso, ficam tão quentes que não podem ser tocadas com a mão, e
quando esfriam já não vale a pena comê-las. Tiveram, portanto, de se
satisfazer com maçãs cruas, o que levou Edmundo a afirmar que, afinal, a
comida do colégio não era tão ruim assim.
– Não ia achar ruim se tivesse aqui agora um bom pedaço de pão
com manteiga – acrescentou ele.
Mas o espírito de aventura já acordara neles, e nenhum dos quatro,
na realidade, preferia estar no colégio.
Depois de comer a última maçã, Susana levantou-se e foi ao poço
beber água. Voltou com alguma coisa na mão.
– Olhem! Vejam o que encontrei. – Entregou a Pedro o que trazia e
sentou-se.
Pelo jeito e pela voz, parecia que Susana ia chorar. Edmundo e
Lúcia, ansiosos por ver o que Pedro tinha na mão, inclinaram-se para a
frente... para um objeto pequeno e brilhante, que refletia a luz da fogueira.
– Confesso que não estou entendendo – disse Pedro, com a voz
embargada, passando aos outros o objeto.