Page 308 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 308

Era  uma  pequena  peça  de  xadrez,  de  tamanho  comum,  mas
                  extraordinariamente  pesada,  por  ser  de  ouro  maciço.  Tratava-se  de  um
                  cavalo  cujos  olhos  eram  dois  rubis  minúsculos,  ou  melhor...  um  deles,
                  porque o outro se perdera.

                         – Nossa! – disse Lúcia. – É exatamente igual a um daqueles cavalos
                  de ouro com que costumávamos jogar em Cair Paravel... quando éramos
                  reis e rainhas.

                         – Nada de tristeza! – disse Pedro a Susana.

                         – Não posso evitar – falou Susana. – Estou-me lembrando daqueles
                  bons tempos. Costumava jogar xadrez com faunos e gigantes simpáticos.
                  Fiquei me lembrando das sereias que cantavam... do meu lindo cavalo... e...
                  e...
                         – Bem – interrompeu Pedro, num tom de voz bastante diferente. –
                  Vamos deixar de fantasias e pensar a sério.

                         – Em quê? – perguntou Edmundo.

                         – Será que ninguém adivinhou onde estamos?

                         – Fale logo – disse Lúcia. – Estou sentindo que há um mistério neste
                  lugar.

                         – Vamos, Pedro, estamos ouvindo – disse Edmundo.
                         – Muito bem: estamos nas ruínas de Cair Paravel.

                         – Ora! – exclamou Edmundo. – Como é que você sabe? Estas ruínas
                  têm  séculos.  Repare  naquelas  árvores.  Olhe  para  aquelas  pedras.  Há
                  centenas de anos que não vive ninguém aqui.

                         – Certo – concordou Pedro. – Aí é que está o problema. Mas vamos
                  deixar isso para depois. Consideremos as coisas uma por uma. Primeiro:
                  este salão é exatamente igual ao de Cair Paravel, na forma e no tamanho.
                  Imaginando um telhado e um chão colorido, em vez da relva, e tapeçarias
                  nas paredes, temos o salão nobre dos banquetes.

                         Todos ficaram calados.
                         – Em segundo lugar – continuou Pedro – , o poço é exatamente no
                  local do nosso. E também é igualzinho em forma e tamanho.

                         Ninguém o interrompeu.

                         – Em terceiro lugar: Susana acaba de encontrar uma das nossas peças
                  de  xadrez...  ou  uma  peça  igualzinha  às  nossas.  Em  quarto  lugar:  não  se
                  lembram  de  que,  na  véspera  da  chegada  dos  embaixadores  do  rei  dos
                  calormanos,  plantamos  um  pomar  logo  depois  do  portão  norte?  O  mais
                  poderoso espírito das árvores, a própria Pomona, veio abençoá-lo. E foram
   303   304   305   306   307   308   309   310   311   312   313