Page 313 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O ANÃO
Dormir ao ar livre tem um grande inconveniente: a gente acorda cedo
demais. E logo que acorda não há remédio senão levantar-se, porque o chão
é duro e incômodo. A situação ainda piora se para a primeira refeição só
houver maçãs, e se o jantar da véspera tiver consistido justamente em
maçãs. Depois de Lúcia ter dito – com toda a razão – que fazia uma
magnífica manhã, ninguém encontrou mais nada agradável para dizer.
Edmundo exprimiu o que todos sentiam:
– Temos de deixar a ilha!
Após beberem água do poço e lavarem o rosto,
seguiram o riacho até a praia e começaram a olhar o canal que os
separava do continente.
– Vamos ter de atravessar a nado – falou Edmundo.
– É fácil para Su – disse Pedro. (Susana ganhara prêmios de natação
no colégio.) – Para os outros, não sei, não.
Por “outros” ele queria dizer Edmundo, que mal conseguia dar duas
braçadas, e Lúcia, que mal se agüentava à tona.
– Seja como for – observou Susana – , é muito possível que haja
correntes aqui. Papai vive dizendo que a gente não deve nadar em lugares
desconhecidos.
– Escute, Pedro – disse Lúcia – , sei que pareço um prego nadando,
no colégio; mas não se lembra de que todos nós nadávamos muito bem há
muito tempo... se é que foi há muito tempo... quando éramos reis e rainhas
em Nárnia? Também montávamos muito bem e fazíamos uma porção de
coisas. Você não acha que...
– Ora – replicou Pedro – , naquele tempo éramos pessoas grandes.
Reinamos durante anos e anos e aprendemos a fazer tudo. Mas agora
estamos com a nossa verdadeira idade.
– Oh! – exclamou Edmundo, num tom de voz que obrigou todos a
prestarem atenção. – Já entendi tudo!
– Entendeu o quê? – perguntou Pedro.
– Tudo! Ontem à noite estávamos intrigados porque saímos de
Nárnia há apenas um ano, mas Cair Paravel parece desabitado há séculos.