Page 315 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Então, nadou desesperadamente para a margem oposta: a seta de Susana
                  acertara-lhe  o  elmo.  Pedro  voltou-se  e  viu  Susana  muito  pálida,  mas
                  senhora  de  si,  preparando  uma  segunda  seta,  que  não  chegou  a  atirar.
                  Porque, assim que o outro soldado viu cair o companheiro, soltou um grito
                  e  atirou-se  na  água,  e  desajeitadamente  chegou  ao  outro  lado,
                  desaparecendo entre os arbustos.

                         –  Depressa!  Antes  que  ele  seja  arrastado  pela  corrente!  –  gritou
                  Pedro.

                         Susana e ele, tal qual estavam, mergulharam e, antes que a água lhes
                  chegasse  aos  ombros,  agarraram  o  barco.  Em  pouco  tempo,  tinham
                  arrastado o anão para a margem, e Edmundo pôs-se ativamente a cortar as
                  cordas  com  o  canivete.  Quando  por  fim  o  anão  se  viu  livre,  sentou-se,
                  esfregou os braços e as pernas e exclamou:

                         – Digam o que disserem, vocês não parecem fantasmas!
                         Como quase todos os anões, era muito atarracado e peitudo. De pé,
                  devia ter cerca de um metro de altura; usava uma barba imensa e suíças de
                  cabelos ruivos e rebeldes, que lhe encobriam quase todo o rosto, deixando
                  apenas  à  vista  um  nariz  que  mais  parecia  um  bico  e  os  negros  olhinhos
                  cintilantes.

                         –  Seja  como  for  –  continuou  ele  –  ,  fantasmas  ou  não,  vocês  me
                  salvaram a vida. Muito obrigado.

                         – E por que haveríamos de ser fantasmas? – perguntou Lúcia.

                         –  A  vida  toda  me  disseram  que  nestes  bosques  ao  longo  da  costa
                  havia mais fantasmas do que árvores. É o que reza a lenda. Por isso, sempre
                  que  desejam  eliminar  alguém,  é  para  cá  que  o  trazem,  como  fizeram
                  comigo. Queriam entregar-me aos fantasmas. Por mim, sempre pensei que
                  iriam  me  cortar  o  pescoço  ou  afogar-me.  Nunca  acreditei  muito  em
                  fantasmas.  Mas  aqueles  valentões  que  vocês  alvejaram  acreditavam.
                  Tinham mais medo do que eu.

                         – Ah! – exclamou Susana. – Foi por isso então que fugiram!
                         – O quê?! – disse o anão.

                         – Fugiram – confirmou Edmundo – , fugiram para a terra.

                         – Não atirei para matar – falou Susana.

                         Ela  não  queria  que  pensassem  que  pudesse  errar  o  alvo  a  uma
                  distância tão pequena. O anão resmungou:
                         – Hum! Isso é mau. Pode trazer futuras complicações. A não ser que

                  eles fiquem de bico calado para salvarem a pele.
                         – Por que queriam afogá-lo? – perguntou Pedro.
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