Page 319 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                          O ANÃO CONTA A HISTÓRIA DO

                                                                   PRÍNCIPE CASPIAN






                         O príncipe Caspian vivia num grande castelo no centro de Nárnia,
                  com  seu  tio  Miraz,  rei  de  Nárnia,  e  sua  tia,  que  tinha  cabelo  ruivo  e  se
                  chamava  Prunaprismia.  Seu  pai  e  sua  mãe  tinham  morrido,  e  não  havia
                  ninguém  que  Caspian  estimasse  tanto  quanto  a  sua  velha  ama.  Embora
                  fosse  príncipe  e  tivesse  belíssimos  brinquedos,  o  seu  momento  preferido
                  era aquele em que, depois de arrumados os brinquedos, a ama começava a
                  contar-lhe histórias.

                         Caspian não gostava dos tios, mas, uma ou duas vezes por semana, o
                  tio mandava chamá-lo e os dois passeavam durante meia hora, no terraço
                  do castelo. Um dia, enquanto passeavam, o rei lhe disse:

                         – Já é tempo de você aprender a montar e a manejar a espada. Sabe
                  que sua tia e eu não temos filhos, de modo que, quando eu me for, você
                  provavelmente será rei. Não gostaria disso?
                         – Não sei, titio – respondeu Caspian,

                         – Não sabe como? O que você podia querer de melhor?

                         – Bem... é que eu gostaria...

                         – Gostaria de quê?!

                         –  Gostaria...  gostaria  de  ter  vivido  nos  velhos  tempos  –  disse
                  Caspian, que ainda não passava de um garotinho.
                         Até aí, o Rei Miraz tinha falado naquele tom de voz indiferente que
                  certos adultos costumam usar e que mostra que não têm o mínimo interesse
                  no que lhe estão dizendo. Mas nesse instante, de repente, fitou Caspian com
                  muita atenção.

                         – O quê?! De que velhos tempos está falando?

                         – Titio não sabe? Dos tempos em que tudo era diferente. Em que os
                  animais falavam, em que as fontes e as árvores eram habitadas por bonitas
                  criaturas, chamadas náiades e dríades. E havia também anões, e os bosques
                  estavam povoados de pequeninos faunos, que tinham patas iguais às dos
                  bodes, e...

                         –  Conversa!  –  interrompeu  o  tio.  –  Conversa  para  tapear  criança.
                  Você já está grande demais para isso. Na sua idade, devia estar pensando
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