Page 321 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Caspian tinha certeza de que ia detestar o preceptor; mas quando este
                  apareceu, passada uma semana, viu que era uma dessas pessoas a quem é
                  impossível querer mal. Nunca tinha visto um homem tão baixo e tão gordo.
                  Usava uma barba pontuda e prateada, que lhe descia até a cintura; o rosto,
                  moreno e enrugado, era muito feio, mas ao mesmo tempo muito bondoso e
                  inteligente. Sua voz era grave, mas ele tinha olhos tão alegres que só quem
                  o conhecesse bem podia dizer quando ele estava brincando ou falando a
                  sério. Seu nome era doutor Cornelius.

                         De todas as aulas que tinha com o doutor Cornelius, aquela de que
                  Caspian mais gostava era

                         História. Tirando as histórias que a ama lhe contara, nada sabia até
                  então da história de Nárnia. Foi assim com grande espanto que aprendeu
                  que só recentemente a família real se instalara no país.

                         –  Foi um  antepassado de  Vossa  Alteza, Caspian  I, que  conquistou
                  Nárnia e fez dela o seu reino – disse o doutor Cornelius. – Foi ele quem
                  trouxe a sua gente para cá. Porque vocês não são narnianos de origem, mas
                  telmarinos. Vieram todos de Teimar, para lá das Montanhas Ocidentais. Por
                  isso, Caspian I é chamado de Caspian, o Conquistador.
                         – Mas, doutor Cornelius, quem vivia em Nárnia antes que viéssemos
                  de Teimar?

                         – Antes da conquista dos telmarinos não havia homens em Nárnia...
                  ou melhor, havia poucos.

                         – O que, então, o meu antepassado venceu?

                         – O que não, Alteza, quem – corrigiu o preceptor. – Acho que está na
                  hora de deixarmos a História e passarmos à gramática.

                         – Ainda não, por favor. Só queria saber se houve alguma batalha, e
                  por  que  é  que  chamam  Caspian  de  Conquistador,  se  não  havia  ninguém
                  com quem lutar?
                         – Eu falei que havia poucos “homens” em Nárnia – disse o doutor
                  Cornelius, olhando de um modo muito estranho para o jovem príncipe.

                         Durante um momento, Caspian não percebeu nada, mas de repente
                  teve um sobressalto.

                         – Quer dizer que havia outras coisas? – perguntou, ansiosamente. –
                  Quer dizer que era mesmo como nas histórias? Havia...?

                         – Psiu! Nem mais uma palavra! – interrompeu-o doutor Cornelius. –
                  Já esqueceu que a ama foi despedida por falar da antiga Nárnia? O rei não
                  gosta  dessa  conversa.  Se  me  apanha  revelando-lhe  segredos,  dá-lhe  uma
                  surra de chicote e corta a minha cabeça.
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