Page 320 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 320
em batalhas e aventuras, e não em contos da carochinha.
– Mas naquele tempo também havia batalhas e aventuras.
Maravilhosas aventuras! Houve até uma Feiticeira Branca, que pretendia
ser rainha de Nárnia. Era tão má que, enquanto ela reinou, foi sempre
inverno. Vieram então, não sei de onde, dois meninos e duas meninas, que
mataram a feiticeira e foram coroados reis e rainhas. Eram Pedro, Susana,
Edmundo e Lúcia. Reinaram durante muito tempo, e todos foram muito
felizes... e tudo isso foi por causa de Aslam...
– Quem é esse Aslam? – indagou Miraz.
Se Caspian fosse um pouco mais experiente, teria percebido, pelo
tom de voz do tio, que o melhor era calar-se. Mas continuou:
– Não sabe? Aslam é o Grande Leão, que vem de além-mar.
– Quem andou botando essas bobagens na sua cabeça? – a voz do rei
era ameaçadora. Caspian teve medo e não respondeu.
– Nobre príncipe – insistiu Miraz, largando a mão de Caspian – ,
exijo que me responda. Olhe nos meus olhos e diga-me quem tem lhe
contado essas refinadas mentiras.
– Foi... foi a ama – gaguejou Caspian, desandando a chorar.
– Acabe imediatamente com isso! – ordenou o tio, agarrando-o pelos
ombros e sacudindo-o com força. – Já falei! E não me venha de novo com
essas tolices. Esses reis e rainhas nunca existiram. Onde é que você já viu
dois reis ao mesmo tempo? Aslam é pura invencionice. Não há leão
nenhum, fique sabendo! E os animais nunca falaram! Compreendeu?
– Compreendi – soluçou Caspian.
– E, agora, ponto final nesta conversa.
O rei chamou um lacaio e ordenou friamente:
– Leve Sua Alteza aos seus aposentos e diga à ama que compareça
aqui imediatamente!
Só no dia seguinte Caspian percebeu o que tinha feito, ao descobrir
que a ama fora despedida sem poder sequer dizer-lhe adeus. Foi informado,
então, que iria ter um preceptor.
Sentiu muita falta da ama e derramou muitas lágrimas de saudade.
Muito infeliz, voltou a pensar nas velhas histórias de Nárnia, ainda mais do
que antes. Todas as noites sonhava com anões e dríades, e tentava
desesperadamente fazer com que os gatos e cães do castelo falassem com
ele. Mas só conseguia que os gatos rosnassem e que os cães sacudissem a
cauda.