Page 325 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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encontrava  nada.  Muitas  vezes  perdi  a  esperança,  mas  sempre  acontece
                  algo  que  nos  faz  ter  esperança  de  novo.  Não  sei...  Mas  você  pode,  pelo
                  menos, procurar ser um rei como o Grande Rei Pedro dos tempos antigos,
                  em vez de seguir o exemplo de seu tio.

                         –  Quer  dizer  que  é  verdade  o  que  dizem  dos  reis  e  rainhas  e  da
                  Feiticeira Branca?

                         – Claro que é. O seu reinado foi a Idade de Ouro de Nárnia, e o país
                  nunca o esqueceu.

                         – Eles viveram neste castelo, doutor?
                         – Não, meu caro príncipe. Este castelo é recente. Foi o seu bisavô
                  que mandou construí-lo. Quando os dois filhos de Adão e as duas filhas de
                  Eva foram coroados, pelo próprio Aslam, reis e rainhas de Nárnia, viveram
                  no castelo de Cair Paravel. Nenhum ser vivo jamais contemplou esse lugar
                  abençoado, e é possível que as próprias ruínas tenham desaparecido. Parece
                  que ficava muito longe daqui, na foz do Grande Rio, à beira-mar.

                         –  Ufa!  –  exclamou  Caspian,  com  um  arrepio.  –  Nos  Bosques
                  Negros? Onde... onde vivem os fantasmas?

                         – O príncipe fala de acordo com o que lhe ensinaram. Mas tudo isso
                  é  mentira.  Não  há  fantasmas  lá;  isso  é  invenção  dos  telmarinos.  Os
                  monarcas de sua raça têm pavor do mar, porque não podem esquecer que,
                  em todas as histórias, Aslam veio de além-mar. Não se aproximam dele,
                  nem querem que ninguém se aproxime. Por isso deixam crescer as florestas
                  que os separam da costa. E porque brigaram com as árvores têm medo dos
                  bosques. E, porque têm medo dos bosques, acham que estes são povoados
                  de  fantasmas.  E  são  os  próprios  reis  que,  odiando  o  mar,  acreditam  em
                  parte nessas histórias e levam os outros a acreditar. Sentem-se mais seguros
                  sabendo  que  ninguém  em  Nárnia  ousa  aproximar-se  da  costa  e  olhar  o
                  mar... olhar para o país de Aslam, para o nascente...

                         Houve um silêncio profundo. Então, doutor Cornelius disse:

                         – Vamos. Já ficamos aqui muito tempo. É hora de voltar a dormir.
                         – Já?! – protestou Caspian. – Podia ficar horas e horas falando dessas
                  coisas.

                         – Podem começar a procurar-nos... – explicou o doutor.
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